Em “The Beatles: Get Back” Peter Jackson traz uma visão de fã para fãs

Caos. O novo documentário sobre uma das maiores bandas da música popular, dirigido pelo premiado Peter Jackson, chegou dando uma voadora direto no coração de todos os fãs dos Beatles.

Review enviada por colaborador Enrico Morello

Caos. O novo documentário sobre uma das maiores bandas da música popular, dirigido pelo premiado Peter Jackson, chegou dando uma voadora direto no coração de todos os fãs dos Beatles. Dividido em três partes, The Beatles: Get Back, que foi originalmente planejado para ser um único filme, tem o propósito de se aprofundar ao máximo na relação do Fab Four, e parece não se importar com duração, apenas com o conteúdo. Um beatlemaníaco não cansa de assistir 7 horas e 50 minutos de reuniões e ensaios, mas um espectador comum talvez.

Parte 1

Get Back começa com um pequeno resumo da carreira dos Beatles até o início dos ensaios para o que se tornou o álbum “Let It Be”, em janeiro de 1969. Após bons onze minutos de pura nostalgia, os planos são expostos: gravar um documentário, um disco, e um especial para a TV.

Logo de cara é possível perceber uma mistura de caos, confusão e incertezas no estúdio cinematográfico Twickenham, onde começaram os ensaios e filmagens do documentário. É seguro deduzir que nenhum dos Beatles estava satisfeito com as ideias que existiam até aquele momento, até porque a grande maioria dos planos acabou mudando drasticamente.

Entre ensaios pouco produtivos e bastante desordenados, Paul McCartney se apresenta como o líder do grupo e tenta organizar as coisas, o que evidencia a indiferença dos outros membros com o projeto que estavam começando, principalmente George, que se mostra incomodado com as ordens de Paul e parece não encontrar mais o seu espaço nos arranjos da banda. Não é só a desorganização entre eles que causa a improdutividade, mas também a pressão imposta por outras pessoas, como o diretor do filme original, Michael Lindsay-Hogg, que tenta de todas as maneiras convencê-los de que o melhor lugar para a apresentação é um anfiteatro na Líbia. O estúdio também não ajudava a situação por conta da péssima acústica.

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(Imagem: Reprodução/Divulgação – The Beatles: Get Back)

As coisas explodem, e então, melhoram.

Os ensaios começam a fluir, as composições começam a aparecer, e o show começa a tomar forma. Nestes ensaios é possível ouvi-los tocando clássicos do rock e também algumas canções que foram lançadas nos álbuns anteriores da banda, em álbuns que ainda estavam por vir, como o “Abbey Road”, e nos álbuns solo dos integrantes, como “Gimme Some Truth” do John, e “All Things Must Pass” do George.

Esse recheio de muitos ensaios e músicas inacabadas é o que realmente prende os fãs, pois é encantador descobrir como essas canções tão amadas tomaram forma, e é engraçado ouvir as primeiras versões tão diferentes do resultado final que conhecemos. 

Outro ponto positivo foi a representação das esposas de alguns dos membros, como Yoko Ono, esposa de John Lennon, que está sempre sentada numa cadeira na roda de ensaio ao lado de seu marido, porém nunca se envolve nas discussões e divagações dos músicos, Linda Eastman (que depois se tornou McCartney), que aparece mais adiante no episódio e também não se envolve nas confusões e discussões, apenas conversa com as pessoas e fotografa o ensaio, e por fim, Maureen Starkey, esposa do Ringo, que aparece na reta final, no momento mais caótico do episódio. Fiz questão de ressaltar esse ponto pois é muito fácil para os fãs que ficaram com o coração partido com o fim dessa banda tão amada, culpar pessoas que não estavam diretamente envolvidas com o choque de egos que inevitavelmente aconteceria dentro de um grupo com pessoas tão talentosas. Espero que no fim dos três episódios possamos todos concordar que não foi Yoko ou Linda ou qualquer outra pessoa que rompeu os Beatles, foram eles mesmos.

E falando em rompimento, a parte 1 de “The Beatles: Get Back” acaba da maneira mais frustrante possível, com George saindo da banda no meio de um dia de ensaio e os outros três extremamente perdidos sem saber o que fazer com essa decisão.

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(Imagem: Reprodução/Divulgação – The Beatles: Get Back)

Parte 2

A segunda parte retoma logo onde a primeira nos deixou, com os Beatles faltando um integrante. Após uma reunião malsucedida com George, os membros remanescentes voltam ao estúdio Twickenham, porém uma dúvida imensa paira no ar, ninguém sabe o que será do futuro do projeto, e da banda.

Depois de Harrison voltar de uma viagem a Liverpool, uma nova reunião acontece e desta vez uma resolução positiva foi encontrada, voltar a um estúdio de música e focar em gravar um bom álbum.

Agora no novíssimo estúdio Apple, no centro de Londres, os Beatles retomam os ensaios e as composições em um clima muito melhor, e as coisas evoluem ainda mais quando Billy Preston (músico que os Beatles conheceram em Hamburgo em 1962) faz uma visita e aceita um convite para participar das jams das músicas novas. Enfim temos uma atmosfera animada, excitada e contagiante dentro do estúdio, Billy era o que faltava pra devolver à banda a vontade de fazer música. Este é o meu momento favorito até aqui no documentário, e acredito que seja o de muitos fãs também, porque as músicas tomam a forma real que virão a ter. 

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(Imagem: Reprodução/Divulgação – The Beatles: Get Back)

Assistir as gravações de inúmeros takes e vê-los ouvindo e julgando o que haviam acabado de gravar me trouxe uma lembrança muito boa de quando eu produzi meu primeiro EP, de uma banda da qual acabei entrando durante o processo de produção e fiz parte por mais de dois anos. Deu uma saudade de ensaiar, gravar, discutir os arranjos e tudo o que compõe uma obra fonográfica.

Ao final do episódio, começa uma discussão sobre o projeto, pois o diretor Michael Lindsay-Hogg continuava filmando os ensaios, mas sem saber o porquê, pois a ideia do documentário e do especial de TV havia sido abandonada. Eles chegam à conclusão de que o documentário deve virar um filme para ser lançado junto do álbum, e a apresentação ao vivo que eles queriam tanto fazer segue em aberto. Até que o diretor e o engenheiro de áudio, Glyn Johns, trazem uma ideia a Paul McCartney, o mais investido no show, tocar no topo do prédio da Apple.

Parte 3

“The Beatles: Get Back” termina com uma parte um pouco “mais do mesmo”, com muitos ensaios e gravações, porém algumas coisas se destacam: a primeira reunião dos Beatles com Allen Klein, que veio a ser empresário da banda e causar muita discórdia, principalmente com Paul McCartney, único membro contrário à sua contratação; e a famosa performance no rooftop no centro de Londres.

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(Imagem: Reprodução/Divulgação – The Beatles: Get Back)

Praticamente metade desta parte é a apresentação em si, mas antes dela existe muita filmagem dos bastidores e é revelado que até no próprio dia ainda havia uma dúvida sobre se ela aconteceria de fato ou não. George chegou até a dizer que ele não queria tocar no telhado, mas os outros queriam, então decidiu-se ir adiante.

Com muitas câmeras posicionadas no telhado da Apple, na recepção, no telhado de um prédio em frente e na rua, e o equipamento para a gravação musical preparado, a apresentação começou. O repertório foi o seguinte: “Get Back” (três vezes), “Don’t Let Me Down” (duas vezes), “I’ve Got a Feeling” (duas vezes), “One After 909” e “Dig a Pony”. Três dessas gravações foram usadas para o álbum “Let It Be”. Enquanto o show acontecia, a polícia foi chamada e dois policiais entraram no prédio para pedir para pararem a música (até o final do show mais dois chegariam e subiriam ao telhado para requisitar o encerramento); e um entrevistador e um câmera passaram por algumas pessoas que pararam para ouvir na rua perguntando se sabiam o que estavam ouvindo e se gostavam dos Beatles e afins. A grande maioria aprovou a apresentação.

O show acabou, eles foram para o estúdio ouvir o que foi gravado, e decidiram voltar no dia seguinte para terminar as gravações desse projeto. Nesse dia foi feita a gravação final da canção “Let It Be”.

(Imagem: Reprodução/Divulgação – The Beatles: Get Back)

E assim acaba o documentário. Acredito que tenha faltado uma certa explicação a quem desconhece a história dos Beatles e possa ficar confuso com a linha do tempo dos lançamento, porque o álbum “Abbey Road”, foi gravado depois dessas sessões, porém lançado antes do álbum.

No geral, “The Beatles: Get Back” é uma viagem no tempo extremamente satisfatória e emocionante para todos os apaixonados e curiosos sobre a maior banda de todos os tempos.

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