Taylor Swift imortaliza “All Too Well” em curta-metragem

Por quase uma década, fãs têm idealizado a versão estendida de “All Too Well”, uma das canções mais ilustres da discografia de Taylor Swift. Com uma grande descrição de detalhes, a faixa também se tornou uma lenda visual entre os ouvintes que a cada replay pintam e recriam o cenário do épico romance em suas cabeças.

Na noite desta última sexta-feira (12), em comemoração à regravação do álbum do qual “All Too Well” faz parte, Taylor Swift imortalizou sua história em mais uma peça criativa. A faixa, que nunca teve a intenção de ser um single nem nunca chegou a ter um videoclipe, é agora o curta-metragem debut da artista.

Para o retrato de sua estreia na direção cinematográfica, a artista não se acanha em usar suas melhores cores. Com bela iluminação e contrastes de luz fria e dos tons quentes do outono, o curta-metragem é uma pintura hipnotizante. A fotografia fica por conta de Rina Yang. Filmado em uma Kodak 35mm, a película entrega intimidade e nostalgia à trágica história de amor de quase dez anos.

You used to be a little kid with glasses in a twin-sized bed

Para quem ainda tinha dúvidas de quem se tratava “All Too Well”, a escolha e a caracterização dos personagens – nomeados “Her” e “Him” (“Ela” e “Ele” em português) – entregam o ponto. Refletindo as novas letras da canção, apresentadas na regravação Red (Taylor’s Version), “You said if we had been closer in age maybe it would have been fine”, o curta deixa sua audiência desconfortável logo de cara com a exorbitante diferença de idade entre os protagonistas de Sadie Sink (19) e Dylan O’Brien (30). 

Tal qual Taylor Swift e Jake Gyllenhaal, os atores escolhidos para os interpretar têm cerca de uma década de diferença em idade. Talvez com um efeito mais dramático, Sink é mais conhecida pelo seu recente papel em Strangers Things como uma pré-adolescente e O’Brien é frequentemente recordado como o adolescente Styles na série Teen Wolf, cuja estreia data de dez anos atrás.

Caso isso não seja suficiente para encarnar a breve e explosiva relação entre Swift e o ator de O Segredo de Brokeback Mountain, não se preocupe. O batom vermelho e a camisa de gola alta de “Her”, e o gorro e a barba de “Him” farão o resto do trabalho. Quanto ao resto dos visuais apresentados em All Too Well: The Short Film, não há muitas certezas sobre o que são memórias da artista e o que são improvisos e realizações de sonhos de fãs. Swift já disse em diversas entrevistas que a música e sua história deixaram de ser só suas, se tornando também dos swifties (fãs da artista).

I can picture it after all these days

O curta tem seus treze minutos de história divididos em sete capítulos: “An Upstate Escape”, “The First Crack In The Glass”, “Are You Real?”, “The Breaking Point”, “The Reeling”, “The Remembering” e “Thirteen Years Gone”. Com apenas duas sequências com diálogos, a narrativa é contada em maior parte através da canção de Taylor e do belo trabalho conjunto visual. O primeiro minuto em cena nos encontra logo nos primeiros versos da composição de Taylor, “I walk through the door with you”. 

Como “folhas de outono caindo como peças no lugar”, a obra é, em sua boa parte, uma representação literal de tudo o que por anos temos ouvido em replay. O cachecol, um folclore por si só, está no corrimão das escadas, na casa da irmã de “Him” – tão qual dizem as letras originais. A chave do carro cai ao chão tal como nos contam as recentes adições à música. 

Durante a mais de uma década de carreira musical de Taylor, tem sido clara a sua habilidade de criar imagens através de suas músicas. Em All Too Well: The Short Film fica evidente também a sua capacidade de nos trazer músicas através de suas imagens. Instigando o público a resolver palavras cruzadas – ou seus infames easter eggs -, é impossível não pensar em outras de suas canções enquanto assistimos ao filme.

O desconforto de “Her” com os amigos mais velhos e indies do namorado nos recordam a inédita “I Bet You Think About Me”. Ainda presenciamos as ligações pós-termino de “We Are Never Ever Getting Back Together” e o marcante aniversário de 21 anos de “The Moment I Knew”. Mais inesperado, o curta nos recorda “tolerate it”, faixa que a artista comporia anos depois, nos fazendo questionar se a música e a película não teriam sido escritos na mesma época.

we’re dancing ’round the kitchen in the refrigerator light

A iluminação também é um elemento importante para o universo cinematográfico (e sonoro) de Taylor Swift. Em vermelho, cor que dá nome ao álbum, a luz é marcante em “The Remembering”. Recordando os melhores momentos do relacionamento, Taylor pinta a tela como canta em “Red”, “burning red” (ou vermelho ardente).

“Remembering him comes in flashbacks and echoes 
Tell myself it's time now, gotta let go 
But moving on from him is impossible 
When I still see it all in my head 
In burning red"

O azul e o dourado, outras cores frequentemente citadas na discografia da artista, também iluminam momentos importantes entre o casal. A luz que marca Sadie é predominantemente quente, enquanto o azul chega em momentos cruciais do relacionamento, quando as primeiras rachaduras se apresentam. Predominante nos três minutos em que o casal discute na cozinha, a cor volta, timidamente, durante a icônica dança à luz da geladeira. Iluminada pela luz externa dourada, a personagem de Sink envolve “Him”, iluminado pela luz fria do refrigerador – simbolizando os diferentes sentimentos de cada um na relação.

A mesma sequência nos remete ao videoclipe de “Mine” – faixa da artista, presente em Speak Now. Swift disse em entrevista ao Jimmy Fallon, que o curta traria diversos easter eggs, uma tradição a qual seus fãs já estão muito bem acostumados. Se este seria um deles é uma conversa para mais tarde. O que é mais notável aqui é alguns momentos que Taylor uma vez romantizava se tornarem prenúncio de um tão em breve fim.

and i might be okay, but i’m not fine at all

Outra cena que alude ao clipe de 2010, a discussão na cozinha. Com um belo trabalho de direção fotográfica por parte de Yang, a câmera segue o casal, durante pouco mais de dois minutos de plano-sequência, em um desentendimento tão bem encenado por Sink e O’Brien que nos sentimos desconfortáveis de testemunhar.

Aqui, aos quase quatro minutos de filme, “Him” distorce as preocupações de “Her” (“rídiculo”, “isso é tão fodido”, ele diz) e opõe-se a algumas das mais memoráveis letras – “I remember it all too well” -, “Literalmente um momento do qual eu nem me lembro sobre o qual você está me mantendo refém”.

Este breve e único momento em que o casal tem um verdadeiro diálogo é, com certeza, um dos mais fortes de toda a metragem. A submissão de “Her” e a manipulação de “Him”, marcados pela diferença de idade, se pronunciam nesta cena através da vergonha que ela sente em perder o próprio controle e o visível poder que ele tem em transformar a situação. É triste e amargo de se assistir. Especialmente quando nos recordamos que, apesar de ser uma cena improvisada pelos atores, muito ela diz sobre o relacionamento que inspirou “All Too Well”.

the idea you had of me, who was she?

Mesmo com poucas falas, a obra resplandece em diversos outros momentos, através de diversas qualidades. “The idea you had of me, who was she?”, Taylor questiona enquanto “Her”, sozinha e deslocada em uma festa, se compara com aparentes representações de uma “never-needy ever-lovely jewel”. A sequência em que se passa é levemente ofuscada pelo turbilhão a que os personagens passam alguns minutos atrás. A intenção de Swift só se torna completamente clara durante os créditos, onde as cinco mulheres colocadas em foco durante a tal cena são creditadas como “Dream Girls”. Contudo, uma vez que se nota, se torna peça essencial do quebra-cabeça.

A versão, presente no filme, da esplendorosa canção também é um show por si só. Com muito mais atrevimento instrumental do que na versão original de 2012, a música é o tour de force por trás da película. Na virada entre “Are You Real?” e “The Breaking Point” somos levados a um estado de esgotamento e euforia com a bela juntura de instrumentos de sopro, cordas, teclas e percussão.

it was rare, you remember it

A peça chega ao seu último ato com “Thirteen Years Gone”. “Her” agora é interpretada por Taylor Swift, a caminho da leitura de seu romance de estreia All Too Well, uma provável releitura do relacionamento. “Him” é visto de costas, com o cachecol no pescoço, a assistir de longe ao lançamento do livro. O capítulo é, sobretudo, uma linda homenagem aos seus fãs, que transformaram um de seus relacionamentos mais dolorosos em uma memória bonita e fértil de até onde Taylor chegou com seu talento.

O capítulo tem sido, também, assunto de discussão entre os fãs. Entre as maiores teorias levantadas pelo curta (Speak Now é o próximo álbum? Ou seria 1989?), a mais recente é se o último ato seria um easter egg de Taylor para um livro a ser lançado em um futuro próximo. Afinal, a película narra a história de um relacionamento de dez anos atrás, e Swift insinuou em entrevista a possibilidade de um easter egg três anos adiantados.

A escrita de Taylor é um dos detalhes mais distintos de suas canções, não é à toa que a artista é considerada uma das melhores compositoras de todos os tempos. A decisão de se aventurar em dois novos campos artísticos em um espaço curto de tempo, apesar de ousado, não parece intimidante para Swift. O sucesso e a narrativa cativante de All Too Well: The Short Film são provas de que, seja o que vier a seguir, o êxito é certo de que virá junto.

All Too Well, o curta – assim como a canção -, deixa claro o talento de Taylor Swift nas artes e na eternização de uma história. Como refere Pablo Neruda, citado logo ao início da película, “É tão curto o amor, tão longo o esquecimento”. E se depender de Taylor, que seja inesquecível.

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