Com The Chaos Chapter: FREEZE, TXT comprova mais uma vez a singularidade e a diversidade da qualidade musical do grupo. Não há dúvidas de que o grupo júnior da BigHit Music se consolida entre os líderes da 4ª geração do k-pop.
Por Joabe Aires e Lívia Stamato
Explorando as complexidades do crescimento, TXT tem sucedido em contar uma narrativa envolvente e embrulhada em belas músicas. Um dos aspectos mais cativantes do grupo é justamente essa narrativa. Apresentada na maior parte de seus videoclipes e muito presente nas músicas, a história sobre o grupo de amigos é pouco explicada pelos próprios membros e pela companhia, mas chama a atenção ao demonstrar de maneira imaginativa as dores da transição para a fase adulta e a potencial ruptura de uma amizade.
Apesar de poucos esclarecimentos por parte do grupo, sabe-se que o primeiro álbum do “Chaos Chapter”, e segundo full-album do grupo, explora os sentimentos de insignificância, vazio e de sentir-se “congelado”, além do desenvolvimento de um primeiro amor. Se até então o universo das músicas se envolvia predominantemente nos sentimentos do grupo e na vontade de pertencimento, o novo álbum trabalha a individualidade do início da fase adulta.
A narrativa do álbum se inicia com a faixa “Anti-Romantic”. A balada delicada com toques de R&B expressa em sua letra os sentimentos de alguém decepcionado com o amor, “Desculpa eu sou um anti-romântico, eu não acredito mais em românticos”. Os doces vocais dos membros do quinteto ao longo da música expressam de forma muito sentida o medo de voltar a se apaixonar. A música se opõe às outras baladas cantadas pelo grupo, como “20cm”, que contava a história de um amor inocente, deixando claro o tom da narrativa exposta ao longo da primeira parte do “The Chaos Chapter”.
A title “0X1=LOVESONG (I Know I Love You)”, por sua vez, contrapõe com sua antecessora, contando a história de amor entre o “menino” e “você” (assim denominados pelo grupo). O grupo sempre mostrou a habilidade de trabalhar com o rock, mas é em “0X1=LOVESONG” que temos a maior exploração do gênero até então. A faixa segue os elementos de emo-rock e punk que tem ressurgido nos últimos meses, que tão bem conversam com a identidade musical dos membros (e de seus personagens). A música conta ainda com a participação dos belos e doces vocais da cantora solo Seori que complementa bem o aspecto áspero e rouco do grupo. Uma escolha óbvia de title para o álbum, a faixa é uma das melhores do grupo até então.
Com uma atmosfera animada e otimista a música “Magic” dá continuidade ao álbum. A primeira canção em inglês do grupo, fala sobre achar um amor depois de se encontrar em um lugar ruim, “Esperando alguém que me salvasse, até que você chamou meu nome”. A faixa pode ser considerada um hino de superação para aqueles que se identificam com as letras de “Anti-Romantic”, “Se você está com o coração partido, apenas dê uma chance”.
Seguindo a mesma vibe mais animada de “Magic”, “Ice Cream” é uma faixa de som veranil de funky-pop. Apesar da sensação nostálgica e das doces melodias, a história contada pela música foge da doçura. Comparando a felicidade a um sorvete (doce e gratificante, mas passageira), pedem por um “pequeno desejo maldoso” de que “as coisas sejam injustas para todos”. A faixa, com participação criativa de Soobin, reflete bem os pensamentos negativos e egoístas fáceis de se relacionar. Apesar disso e do forte potencial sonoro do primeiro verso, o mesmo não se pode dizer do refrão, um tanto repetitivo e clichê, tornando a música a mais fraca do álbum.
Fazendo referência a “PUMA”, faixa de The Dream Chapter: Eternity, “What if I had been that PUMA” discute o dilema e a indecisão diante da percepção de que suas ações têm consequências. Como descreve seu nome em coreano, “밸런스 게임” (jogo de equilíbrio), os membros se encontram novamente em “PUMA”, desta vez em um jogo de videogame e conscientes de que a decisão de permanecer na jaula ou tentar se libertar desenrolará outros eventos. Com baixo pesado e marcada pelo uso de autotune, a faixa – como as próprias ações narradas nela – é arriscada e não é para o paladar de todos.
“No Rules”, a faixa sucessora, é um retropop que possui um arranjo alegre e otimista, porém esses não são os sentimentos que encontramos na letra da música. A letra em si fala sobre descontentamento com a vida e com a perda de liberdade, “todos esses padrões quebrados me confundem, o que é o certo? Eu não entendo”.
Assim como em “What if I had been that PUMA”, “No Rules” faz referência a um trabalho anterior do grupo, a música “New Rules”, na qual tudo que os meninos queriam era serem livres para serem “punks”. Na nova faixa, eles cantam: “Sim eu queria ser punk, eu me tornei um verdadeiro idiota?”. Essa alusão à faixa antiga transforma a música em uma narrativa única. Os membros começam cantando “eu só quero dançar, dançar até não poder mais”, ainda com o mesmo entusiasmo apresentado em “New Rules”, mas já pro final da música eles suplicam: “eu quero parar essa vibe, estou ficando cansado, sim, eu não quero mais dançar”.
Voltando ao rock de “0X1=LOVESONG”, “Dear Sputnik” também volta à narrativa de uma paixão intensa, “É meu destino, finalmente te encontrei”. Co-produzida por Hueningkai e com participação lírica dele e de Taehyun, a faixa traz sons de alt-rock e pop-punk, com presença de vocais crus e de instrumentos bem marcados. Com grande transposição de emoções, a música promete ser a favorita a ser tocada em shows.
O disco é finalizado com “Frost”, é um hyper pop recheado de sintetizadores. O arranjo musical acompanha perfeitamente a narrativa “desorientada” expressa na letra da música, “realmente perdi minha cabeça”. O destaque nessa faixa vai para os vocais roucos, porém poderosos, de Taehyun em conjunto com as harmonias dos outros membros. “Frost” é o encerramento perfeito para o álbum, resumindo exatamente a essência que Tomorrow by Together pretende passar através do The Chaos Chapter: Freeze, “agora estou em caos”.
O TXT sempre teve uma discografia impecável, e Freeze mantém o mesmo nível de qualidade de trabalhos anteriores do grupo. Talvez ainda melhor do que seus antecessores, o disco rendeu o primeiro top 10 do grupo na Hot 200 da Billboard. O álbum deixa explícita a evolução do grupo tanto musical, com faixas muito mais profundas e com uma maior variedade de estilos musicais, quanto criativamente, com uma maior participação dos membros na produção e composição das músicas.
The Chaos Chapter: Freeze nos deixa com grandes expectativas de que o quinteto continue nessa onda de rock e punk misturada com gêneros mais leves. Assim como os outros trabalhos do grupo, Freeze tem sucesso em criar narrativas impressionantes que nos deixam cada vez mais com vontade de descobrir o que vem a seguir.