Ainda não tão conhecida pelo o público mainstream, Rina Sawayama é uma cantora japonesa que reside em Londres. Artista da Dirty Hit, mesma gravadora de nomes como Wolf Alice e The 1975, em 2017, ela se juntou ao músico Clarence Clarity e lançou seu primeiro EP, intitulado “RINA”. Em seu primeiro grande lançamento, ela já mostrou que veio para ficar, através de um pop vibrante que possui raízes nos anos 2000 e no R&B, mas que visa no futuro. Faixas como “Ordinary Superstar” e “Cyber Stockholm Syndrome” valem ser ouvidas por qualquer fã de música pop.
Agora, em abril de 2020, ela finalmente lança seu aguardado disco de estreia, intitulado “SAWAYAMA”. O álbum de 13 faixas explora seus relacionamentos, sua família – tanto pelo título da obra – e a construção de família fora dos laços sanguíneos.
“SAWAYAMA” já começa grandioso, a faixa “Dynasty” é um convite para entrar no universo do álbum. Ao cantar “I’m a dynasty/The pain in my vein is hereditary”, Rina disserta sobre suas dores familiares, suas inseguranças em relação a sua criação e como ela quer representar seus antepassados. Mesmo sendo uma faixa pop, também apresenta guitarras mais pesadas. Um pouco parecido com o que a dupla t.A.T.u. apresentou em 2002 com “All The Things She Said”. Da mesma forma que as russas fizeram, Rina mescla pop com nu-metal em várias músicas e é esse o fator que transforma o disco em um dos grandes lançamentos do ano. Uma curiosidade é que Adam Hamm do The 1975 toca nessa faixa.
Em “XS” e “STFU!” a artista mostra que é possível misturar gêneros musicais distintos e fazer eles funcionarem bem juntos. “XS” apresenta referências a Britney Spears com um vocal doce, mas ao mesmo tempo possui um riff de metal bem marcante. Já em “STFU!” o metal toma conta da faixa inteira, com uma agressividade diferente do R&B que ela apresentava em seus lançamentos anteriores. O ouvinte passa a se sentir até em uma gravação do Evanescence. A raiva não fica só na melodia, a letra é uma resposta a todos os comentários negativos e micro agressões que ela e sua família receberam ao longo da vida.
Em seu lado mais R&B, “Akasaka Sad” e “Bad Friend” são duas músicas que poderiam ter sido facilmente retiradas da discografia da Ariana Grande. Já “Who’s Gonna Save You Now?” é um hino para se cantar alto, com uma produção grandiosa, faz com que nos sintamos dentro de um estádio cantando junto com a Rina.
Ao se voltar mais para o pop de balada, em “Comme des Garçons (Like the boys) ” ela apresenta a mensagem de se sentir confiante e acolhida. A canção mais comercial do disco possui um refrão que fica na cabeça do ouvinte. Na belíssima “Chosen Family”, ela canta que uma família não precisa possuir os mesmos genes. A faixa produzida por Danny L Harle– grande nome do PC Music- completa o universo de inclusão que o disco quer passar.
Desse modo, o disco, mesmo apresentando diversas facetas musicais da artista, é coerente, animado e na direção que o pop deve soar em 2020. No entanto, “Fuck This World (Interlude)” acaba soando desnecessária no contexto geral do álbum. A nona faixa da obra fica perdida entre grandes músicas, fazendo o ouvinte pular rapidamente para a próxima faixa. O outro ponto negativo do “SAWAYAMA” é como ele termina: “Snakeskin” não é a música ideal para terminar o disco. Com uma melodia animada, a faixa é boa, mas não é a ideal para um encerramento. A artista teria finalizado com chave de ouro com a décima segunda faixa, a já citada “Chosen Family”.
Rina Sawayama apresenta música pop como ela deve ser feita. Sem medo de ousar, a artista acaba acertando e errando ao se arriscar, mas até os defeitos tornam o álbum grandioso.
9/10