Munido de muito lo-fi e hip hop, EXPEDIDOR lança nesta quinta-feira (25) seu primeiro disco, a mixtape denominada ‘IMPERFEITO DE GRAÇA’. A persona artística do produtor multimídia Lucas Bellator, que completa hoje 29 anos de idade, explora neste trabalho a mistura de sons e elementos instrumentais variados em nove faixas que fecham um ciclo de três anos de projeto.
Em suas próprias palavras, EXPEDIDOR afirma que as composições passeiam entre o som sujo e limpo de instrumental lírico. O disco conta com influências variadas e ‘malucas’, incluindo JPEGMAFIA, BROCKHAMPTON, Lupe de Lupe e Drake. A banda britânica de metalcore Bring Me The Horizon também está entre as referências citadas, mas não nos elementos sonoros, e sim na vontade de criar um trabalho de grande relevância durante o período de pandemia.
“Sobre o processo de composição e curadoria sonora de lo-fi, eu gosto de deixar o meu pra esse disco bem livre. Eu geralmente começo com uma bateria básica, toco o baixo por cima e dali seguimos FRITANDO. Eu vou geralmente com uma intenção: na música “pats” do disco, por exemplo, eu queria fazer algo bem doce e feliz. Já em “air fryers” ou em “a que eu queria que voltasse”, eu busquei experimentar, mas ainda assim passar uma coisa mais melancólica“.
Bastante inspirado pelas produções do artista e produtor japonês Joji, EXPEDIDOR comenta que a mixtape foi inteiramente construída e mixada dentro do coletivo/selo/espaço comunitário @CIPHERcc – não sabe o que é? Procure saber. Nenhuma das faixas conta com feats, mas todas possuem pequenas colaborações de amigos, seja em vocais ou samplers. Ainda sim, toda a parte parte criativa de gravação, arranjo, seleção de repertório, mixagem, masterização e distribuição ficou por conta do artista. Questionado sobre o que difere um lo-fi bom e ruim, EXPEDIDOR acredita que a diferença está na autenticidade, e que o lo-fi ruim é aquele que repete uma fórmula pronta a fim de preencher vaga em playlists grandes.
O projeto é realmente ‘IMPERFEITO e DE GRAÇA‘ até o osso por que eu fiz questão que fosse. A ideia é refletir o que eu gosto mas também refletir o estado da arte no brasil de modo geral: muita gente fazendo coisa imperfeita, de graça, o tempo todo.
EXPEDIDOR
Entre as nove breve tracks que compõem o trabalho de vinte minutos de duração, os elementos incluem samplers, falas, instrumentos, distorções e sons cotidianos que conversam entre si, de forma harmoniosa ou não. São raras as faixas onde vocais de rap acompanham a atmosfera lúdica de lo-fi, onde os variados sons brincam com o imaginário do ouvinte. Um exemplo são as faixas “CASOS” e “LARISSA“, que transbordam reflexão, sentimento e intensidade de formas diferentes.
“A mixtape foi feita pra impactar tanto os outros produtores da cena lo-fi quanto quem nunca me ouviu. Eu quis ficar entre a luz e a sombra, o bonito e o experimental, o vocal e o instrumental. O IMPERFEITO DE GRAÇA foi nesse sentido pra socar goela abaixo de todo mundo, pois em vários momentos ele é de propósito algo muito fora do óbvio de ouvir. Mas ao mesmo tempo, além desse papo de impacto, eu acho que o disco representa bem os extremos do meu gosto e da minha “história” na musica: Eu fotografo bandas de rock, mas eu também participo de batalha de rima. Eu gosto de Strokes, mas gosto de MF DOOM. Eu era muito muito muito fã de Fresno e hoje prefiro Tyler The Creator. Eu acho que sonoramente falando a mixtape está sempre entre esses dois extremos“.
O resultado é um álbum bastante inventivo que divaga entre o experimentalismo de uma produção refinada e bem curada no intuito de criar uma atmosfera urbana, porém sem muita intenção de fazer sentido, uma vez que a interpretação fica por conta do ouvinte. O trabalho é imersivo a sua própria maneira. Sintetizadores, samplers, beats e blues interagem de forma agradável, sensível e quase padronizadas a ponto de tornar a conclusão das faixas previsível, mas nem tanto.
OUÇA: