5 faixas longas que são uma verdadeira jornada

No ROCKNBOLD o que não falta são listas: faixas curtas, álbuns novos, artistas independentes, bandas undergrounds… mas agora chegou a vez delas: as mais longas tracks que merecem sua atenção!

Ao contrário da outra lista de indicações, aqui temos discos que tomam boa parte do seu tempo apresentando narrativas e conceitos que são estendidos e aprofundados em uma única longa música criando verdadeiros épicos que merecem sua atenção!

I, do Meshuggah, com 21 minutos
Just realized the cover for 'I' made out of faces: Meshuggah

Os suecos e criadores, indiretamente, do djent haviam acabado de definir sua marca registrada com seus poliritmos calculados no influente Nothing, de 2002, até que por ironia do destino criaram algo que foi definido pelo baterista do grupo, Tomas Haake, como aleatório. E é aí que surge o EP com apenas uma música de 21 minutos, intitulada I.

A ideia da faixa surgiu do acaso quando ele e o guitarrista Fredrik Thordendal durante ensaios no estúdio notaram que estavam criando ritmos interessantes e decidiram começar a gravar. Sem padrão nenhum ou até ideia prévia, produziram as baterias e depois adicionaram o restante dos instrumentos, até que enfim os vocais.

Desde que a faixa começa, ela não para e o grupo providencia poucos momentos de respiro para o ouvinte. Os grooves estão mais velozes do que nunca, o andamento e os compassos parecem cada vez mais difíceis de serem acompanhados, ao ponto que os vocais frenéticos de Jens Kidman ampliam o caos musical tratando de uma questão existencial sob uma ótica intimidadora.

Mas o grande detalhe, é justamente a espontaneidade com que a faixa foi concebida. Esta “aleatoriedade” faz com que seu progresso se torne cada vez mais imprevisível de forma que a jornada tome proporções inesperadas, e isso diz muito sobre a faixa em um gênero conhecido pela sonoridade repetitiva. I é uma experiência satisfatória que, sem dúvida, exige certa disposição, não só pela duração, mas pela sua capacidade explosiva e extrema.

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It Comes In Waves, do The Acacia Strain, com 30 minutos

Os veteranos do metalcore, The Acacia Strain, já conhecidos por manterem uma boa consistência de lançamentos, não só em quantidade mas também em qualidade, decidiram presentear seus fãs, em 2019, com um disco surpresa que contava com apenas uma faixa de 30 minutos.

O álbum traz o conceito de que deuses ou criaturas divinas, em toda sua existência nunca estiveram determinados a nos ajudar ou nos machucar, necessariamente. Mas que eles simplesmente se divertiam com a humanidade conforme lhes era conveniente e que no final das contas, o nosso único pecado foi nomeá-los achando que eles ligavam para nossa existência.

O álbum trabalha toda essa narrativa de terror em uma única faixa dividida em sete peças menores formando a palavra “Our Only Sin Was Giving Them Names”, e são pensadas para funcionarem como uma obra só. Aqui, The Acacia Strain abraça todas suas influências musicais e soa mais versátil que nunca, usando de death metal, sludge, doom, hardcore, passagens atmosféricas e samples de filmes de horror para intensificarem uma experiência imersiva e aterrorizante. São trinta minutos que passam voando e se colocam como o lançamento mais ousado e mais bem executado do grupo.

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Pleiades’ Dust, do Gorguts, com 33 minutos

Há séculos o death metal abandonou seu letrismo unidimensional gore e passou a abranger outros leques temáticos. Mas até 2016 ninguém desse nicho havia cogitado explorar a história da Casa da Sabedoria, muito menos em uma única faixa de 33 minutos. E foi isso que os gigantes do death metal, Gorguts, fizeram.

A Casa da Sabedoria foi um centro cultural e uma enorme biblioteca mantida por governantes do império islâmico, entre os séculos IX e XIII, que se localizava em Bagdá e tinha como objetivo produzir, estudar e ampliar todo conhecimento científico da época e tendo possibilitado entendimentos que utilizamos até hoje em nossas vidas.

A faixa começa com a queda de Roma, por volta de 500 a.C, depois transita pela fundação da cidade de Bagdá e então fecha com a invasão Mongol, nos anos 1200, que marca a Casa da Sabedoria sendo destruída. Utilizar o death metal para contar todo esse cenário parece impossível, mas Luc Lemay e companhia o fazem.

Esse EP é uma jornada épica multifacetada, que conduz a música por inúmeros territórios, tanto históricas quanto musicais. Abraçando melodias não presentes no gênero e equilibrando momentos de calmaria e momentos de fúria sem exageros, chamando a atenção por uma temática diferente explorada de forma criativa.

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Cassandra Gemini, do The Mars Volta, com 32 minutos

Cassandra Gemini” é provavelmente a única faixa dessa lista que não compõe um único álbum inteiro, apesar de ser o grande clímax do grandioso Frances The Mute. A ideia para o álbum veio após Jeremy Ward, técnico de som da banda na época, encontrar um diário dentro de um carro. Tal diário pertencia a alguém desconhecido que estava em busca de descobrir quem eram seus pais biológicos. Isso chamou a atenção de Ward pois a história era semelhante à sua vida, e após levar isso para os membros da bandas, eles decidiram expandir a ideia em cima desses relatos e desenvolver um disco com os nomes de pessoas ali mencionadas.

Voltando à faixa, ela é a realização da visão artística de Omar Rodríguez-López que afirma que desde sua adolescência, por influência de grupos como King Crimson, sonhava em produzir uma única faixa que fosse algo deformado e descontrolado, algo enorme e violento, e assim surgiu “Cassandra Gemini”.

A faixa é um colosso de 32 minutos e 32 segundos, também quebrada, não inicialmente em oito faixas menores, e contando com participação especial de ninguém menos que Flea, do RHCP, nos trompetes. Começando exatamente onde a faixa anterior nos deixou de forma intrigante, a música toma proporções e rumos inesperados sem soar desconexa. Aqui, o lado frenético do primeiro disco do grupo e o grande abraço ao experimentalismo proposto no segundo álbum se casam de forma genial. Longas passagens de improvisos, trechos com sons ambiente, percussões tribais e frenéticas, solos e mais solos de guitarra, uma performance vocal visceral de Cedric Bixler-Zavala. Ao final, “Cassandra Gemini” nos devolve à melodia que iniciou o álbum.

É uma faixa, assim como todo o álbum, que merece muito mais de uma ouvida, sendo que em cada replay algo novo é descoberto. São camadas e mais camadas musicais que são descobertas e recompensam cada segundo “gasto”.

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The Incident, do Porcupine Tree, com 55 minutos e 15 segundos

A faixa de 55 minutos do grupo de rock progressivo, Porcupine Tree, saiu da mente do frontman Steven Wilson após ficar em um engarrafamento na estrada devido a um acidente que havia acabado de acontecer. A ideia veio após ele ler a placa onde estava escrito “Police – Incident”, enquanto os carros desaceleravam enquanto viam o que havia acontecido. 

A palavra “incidente” lhe causou incomodou por algo tão traumático e destrutivo ter um tratamento tão frio em determinados contextos. Portanto, ele decidiu escrever sobre tópicos que foram reportados como apenas incidentes pela mídia na intenção humanizá-los, de forma a contar essa história em uma única e longa faixa de 55 minutos, que é dividida em 14 outras menores.

Apesar de cada faixa apresentar uma estética musical distinta da outra, todas sempre trazem o sentimento de fazerem parte de algo maior. O disco também marca, apesar da grande variedade, uma visão menos pesada, presente em lançamentos anteriores, ao priorizar momentos mais acústicos e calmos ao mesmo tempo que utiliza de novas propostas para inovar.

Sim, é uma faixa longa que assusta pela duração, e que é melhor consumida de uma vez para uma experiência completa. Aqui, ao invés de olhar para dentro, como Porcupine Tree sempre fez de costume, o grupo traz um olhar externo dar voz a histórias e situações que, infelizmente, entram para as lamentáveis estatísticas do dia-a-dia. Tudo isso envolto na qualidade musical de um dos maiores nomes do rock progressivo.

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