O dia em que The Stone Roses atacou sua gravadora com baldes de tinta

Em 1990, The Stone Roses vivia o auge de sua carreira. No ano anterior, o grupo havia lançado seu primeiro álbum de estúdio, considerado um dos mais influentes da história da música britânica. Com sua antiga gravadora querendo tirar proveito do sucesso da banda, a Revolver FM decidiu relançar o single “Sally Cinnamon” sem a aprovação deles e o resultado acabou no Tribunal da Corte do País de Gales.

O impacto de The Stone Roses (1989)

Vai que por algum motivo você se interessou pelo título desse texto, porém, nunca ouviu The Stone Roses? Para os desavisados, foi uma banda de rock formada em Manchester no início dos anos 1980. Entre os anos 1983-1987, o grupo começou a conquistar uma legião de fãs em sua cidade, o que fez eles conseguirem um contrato com a Revolver FM e lançaram seu single “Sally Cinnamon”, que não obteve tanto sucesso na época.

No ano seguinte, eles chamaram a atenção da gravadora Rough Trade e de Peter Hook, consagrado baixista do Joy Division e New Order, que queria produzir o primeiro álbum do Stone Roses. Porém, devido a sua agenda lotada, somente uma canção foi produzida por ele, a clássica “Elephant Stone”. No mesmo ano, foram para a Silvertone Records e finalmente iniciaram a gravação do disco com John Leckie na produção – que depois veio a produzir o The Bends do Radiohead e os dois primeiros álbuns do Muse.

Em maio de 1989, The Stone Roses (1989) foi lançado e se tornou um marco do Madchester, movimento cultural britânico que teve a banda como uma das pioneiras. Misturando elementos do rock alternativo, acid house e rock psicodélico, eles dominaram a cena de Manchester na virada da década. Com o enorme sucesso, o álbum até hoje é considerado um dos mais influentes da terra da Rainha e é considerado fundamental para o surgimento de bandas como Oasis e Blur. Canções como “I Wanna Be Adored”, “I Am the Resurrection” e “Fools Gold” são hinos entoados até hoje por inúmeros fãs.

O impacto do grupo não ficou somente no primeiro álbum e, na época, eles inspiraram a forma dos jovens de Manchester a se vestir e também a forma de se organizar shows. Concertos legendários, como o Spike Island em 1990, marcaram a época. Sendo esse considerado o Woodstock britânico, os problemas de som não atrapalharam a experiência das mais de trinta mil pessoas presentes.

Confusão no País de Gales

Com o sucesso do álbum lançado no ano anterior e o nome do grupo em alta por todo o território britânico, a Revolver FM – agora já antiga gravadora deles, resolveu utilizar o que eles tinham em mãos de gravação da banda para lucrar.

Em dezembro de 1986, o grupo havia assinado com a FM Revolver Records o lançamento de um single, o segundo do Stone Roses. “Sally Cinnamon” começou a ser divulgada em maio de 1987 e teve um pequeno impacto nos charts britânicos de música independente, porém, não foi o suficiente para deslanchar a carreira da banda que passou por mais duas gravadoras até ter seu primeiro disco lançado.

Com The Stone Roses (1989) lançado e fazendo muito sucesso, a Revolver FM se viu numa posição agradável de poder relançar o single que possuía do grupo, mesmo ele já não sendo mais o exato som que a banda estava produzindo naquele momento – tanto que “Sally Cinnamon” foi gravada antes da entrada do influente baixista Mani no grupo.

O relançamento do single veio junto com um videoclipe não autorizado pela banda, o que fez com que eles ficassem inconformados com a atitude da antiga gravadora. Revoltados, no dia 30 de janeiro de 1990, Reni, John Squire e Ian Brown foram “armados” para a sede da gravadora com litros de tinta azul e branca. Após conseguirem entrar no local, despejaram grande parte do líquido em Paul Birch, diretor da Revolver FM, e em sua namorada. Ainda não satisfeitos, o restante foi usado para pintar a novíssima Mercedes comprada por Birch e mais dois carros acabaram sendo “atacados” por tinta.

Imediatamente a polícia foi acionada e os três foram presos e acusados de crime de dano. No dia seguinte, eles já foram levados ao tribunal pela primeira vez e durante o decorrer do ano, o caso continuou até chegar a um veredito. Cada um precisou pagar uma quantia de £ 3.600 e o juiz ainda citou que pensou em sentenciar eles com prisão. Porém, a ideia foi deixada de lado, pois, segundo o mesmo, eles irem presos seria positivo para a carreira da banda.

Mais de 30 anos depois, ainda fica o recado para as gravadoras – principalmente as que possuem algum single dos Stone Roses perdido no catálogo – para antes de saírem relançando algo, verificarem se a banda está de acordo com a decisão.

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