Seja sobre o retorno de três membros do serviço militar, seja sobre o lançamento de novas músicas após três anos sem atividade, o que importa é que podemos oficialmente voltar a declarar: SHINee’s back. A antecipada volta do grupo veio com o seu 7º álbum da sua longa carreira, intitulado Don’t Call Me.
O SHINee se encontrava longe dos palcos desde 2018, com exceção de seu integrante mais novo, Taemin, que passou esse tempo trabalhando como artista solo. Os outros membros do grupo, Onew, Key e Minho, foram todos dispensados do serviço militar obrigatório na Coreia no final do ano passado. O grupo, então, se reuniu publicamente em janeiro desse ano para realizar um show especial online, onde finalmente anunciaram o seu tão aguardado retorno.
Por Ioná Corrêa
Além de ser o nome do álbum, Don’t Call Me é também o título da canção que foi escolhida como single do comeback. Utilizando-se de um instrumental eletrônico pesado, com o baixo se destacando bastante, a faixa tem um estilo que é no mínimo inesperado para o grupo, especialmente se tratando de algo que veio depois de tanto tempo sem um lançamento novo pelos artistas. A obra acaba parecendo uma tentativa de encaixar o SHINee, no contexto mais atual do k-pop, mas que dentro do álbum fica um tanto quanto perdida, já que todas as outras canções nele remetem muito mais ao som característico do grupo do qual sentíamos tanta falta.
De qualquer modo, por mais que Don’t Call Me não pareça ter sido produzida com os pontos fortes do SHINee em mente, o grupo ainda consegue encontrar momentos nos quais seus talentos podem se destacar na canção. Se sobressaem, particularmente, os fortes vocais de Taemin e Onew, especialmente na ponte da música – que, por sinal, é uma das seções mais interessantes da faixa.
Heart Attack é a segunda canção do álbum e é a partir daí que sentimos, de fato, o retorno do grupo. Remetendo ao som já explorado pelos membros em 2016 com 1 of 1, o baixo e a guitarra juntamente com os synths e os diversos vocais em harmonia no refrão estabelecem um som que é caracteristicamente SHINee. O ritmo do instrumental é contagiante, com uma batida dançante e extremamente divertida de se ouvir, culminando numa canção que é bastante energética e que expõe de maneira excelente as competências individuais de cada integrante.
Complementando a faixa anterior, Marry You segue mais ou menos na mesma linha retrô, porém em um lado oposto do espectro, com uma pegada mais calma. O ritmo downtempo e a letra direta e sentimental juntam-se para criar um clima romântico e a canção, apesar de não ser nada extremamente diferente, é agradável e tranquila de se ouvir.
As próximas faixas, CØDE e I Really Want You, nos levam com facilidade de volta ao clima animado presente no início do álbum e reforçam mais ainda o estilo musical tão inerente do SHINee. A primeira conta com um refrão explosivo e cheio de energia, especialmente presente nos vocais e no drop que vem logo na próxima sessão da música. A voz do vocalista e líder do grupo Onew novamente se sobressai da melhor maneira possível, assim como os falsetes realizados por Key ao longo da obra. Já I Really Want You se consolida como uma das melhores canções do álbum, destacando-se pela melodia instrumental – que tem uma presença forte de instrumentos de sopro, além de uma guitarra que contribui fortemente para a energia descolada da canção. A produção de uma forma geral lembra algumas das obras-primas mais antigas do grupo, como Married to the Music e View, e a vibe retrô da canção faz até lembrar obras de artistas como Whitney Houston na era disco.
Dentre as obras inspiradas por esse mesmo estilo também está Kiss Kiss que, apesar de ser contagiante e interessante até certo ponto, não consegue causar o mesmo impacto que as outras faixas do álbum. No entanto, os instrumentais espaçados e leves destacam as vozes dos membros do grupo e conseguem criar uma vibe bastante tranquila, o que faz com que a canção seja um tanto quanto gostosa de ouvir. Além disso, momentos como a mudança de textura na melodia quando entramos na ponte da música nos prova que o grupo consegue encontrar pequenos espaços para tornar suas obras únicas, mesmo nas suas composições mais simples.
Body Rhythm é, muito provavelmente, a faixa mais interessante de Don’t Call Me. Fortemente inspirada por reggae – um estilo nunca antes explorado pelo grupo – a sétima faixa do álbum tem uma atmosfera um tanto quanto sexy, bastante perceptível tanto em sua letra, quanto em sua melodia. Os vocais intensos dos versos se contrapõem de forma notável à faixa instrumental ao fundo, e a suspensão de grande parte dos elementos da produção durante a primeira metade do refrão consegue destacar ainda mais a sensualidade da canção. Body Rhythm comprova mais uma vez a aptidão do Shinee para executar diversos gêneros diferentes com grande sucesso, ao mesmo tempo não precisando comprometer a identidade sonora do grupo, mostrando-se capazes de adaptar diferentes estilos musicais ao seu próprio modelo.
Chegando quase ao fim do álbum, Attention é uma música que infelizmente não se destaca tanto quanto poderia. Apesar de simples, por si só ela não é uma canção necessariamente ruim. No entanto, no conjunto da obra, acaba soando um tanto quanto genérica e, apesar de ter momentos interessantes – é difícil existir uma música do SHINee cuja ponte não seja impecável – não consegue se comparar bem ao resto do álbum.
Um álbum com uma energia tão alta quanto esse não poderia acabar de maneira melhor que Kind, a última canção da obra. Com seu ritmo lento acompanhado pelos belíssimos vocais que o SHINee é famoso por executar, a música transmite um sentimento forte de esperança e união, explicitado especialmente na letra que fala sobre encontrar alguém que traz esperança e serve como uma âncora para superar os maus momentos: “I passed the hopeless season / And found my answer, that was you”. O fato de que os integrantes do grupo cantam completando as frases uns dos outros durante o pré-refrão, mais tarde juntando-se todos para cantar em uníssono no refrão intensifica mais ainda o sentimento de harmonia e de intimidade na canção, encerrando o Don’t Call Me numa nota um tanto quanto emotiva.
O sétimo álbum do SHINee tem algumas composições excepcionais, de forma geral possuindo muito mais pontos positivos do que negativos. A escolha da canção homônima do álbum, Don’t Call Me, como single é um tanto quanto decepcionante quando verificamos que todas as outras produções na obra, mesmo sendo dos mais diversos gêneros musicais, transbordam o som característico do grupo que tanto faz falta na title.
De qualquer forma, o aguardadíssimo retorno dos veteranos do k-pop foi ainda assim realizado com grande sucesso, nos mostrando de vez a grande falta que a presença do grupo na indústria fez nesses últimos anos.