Ingested abraça variedade musical no melhor disco da carreira

Britânicos do metal extremo saem da zona de conforto musical para produzir o mais bem escrito e variado disco de sua carreira

Desde a criação do death metal, em 1985, testemunhou-se diversas ramificações e fusões, as quais resultaram em uma gigantesca variedade musical, dentre elas, o slam e o deathcore. A fusão dos dois é produzida por diversos grupos ao redor do mundo, no entanto, o mais importante no cenário sempre foi o Ingested, hoje com 14 anos.

O grupo foi criado em Manchester, na Inglaterra, unindo os dois gêneros que, apesar do mesmo berço, possuíam bases de fãs diferentes e musicalidade distinta. Após o quarto álbum, The Level Above Human, de 2018, a fórmula parecia esgotada. Poucas novidades e uma aparente zona de conforto nas composições, e o que os diferenciava de seus contemporâneos já não tinha o mesmo impacto. No ano passado, lançaram um EP chamado Call of The Void, o qual apresentou uma sonoridade recheada de novas influências e nuances, além de alterar o tópico das letras, que outrora remetiam a um filme Slasher dos anos 80 em formato de música, abordando a mitologia de H.P. Lovecraft.

Lançado neste ano, no dia 14 de agosto, Where Only Gods May Tread contém 10 novas faixas e é a culminação de tudo aquilo que foi criado pelos britânicos em quase uma década e meia de atividade.

Capa do álbum "Where Only Gods May Tread"
Imagem: Capa do álbum “Where Only Gods May Tread”

O disco abre com “Follow the Deceiver”, com um riff que prepara o ritmo do que vem em seguida. Após a introdução, surgem as influências de black metal que conduzem o instrumental por todas as transições aqui presentes, são muitas. Faltando um minuto para o encerramento, o riff que começou a jornada é reintroduzido, passando por diversas metamorfoses antes da faixa se encerrar por completo.

A exploração de novos territórios musicais não para. A partir daí, o disco explora uma sonoridade mais atmosférica e melódica, sem abandonar a agressividade. Em “No Half Measures”, na segunda metade, apresenta-se um lead melancólico que se estende até o final antes do breakdown. Já em “Impending Dominance”, um trecho acústico é sobreposto por elementos sinfônicos unidos a um canto coral abrindo espaço para uma sessão com teclados antes do fim da faixa.

The List” é construída de forma que a conclusão seja o grande clímax. Uma passagem apresentada na metade da música é recriada no final, com guitarras que se sobrepõem, todas produzindo uma melodia diferente, mas ao mesmo tempo sem engolirem umas às outras. Isso tudo com o ritmo desacelerando-se às repetições das letras.

A quinta do disco, “The Burden of Our Failures”, conta com a participação especial de Vincent Bennett, do The Acacia Strain, a música mantém-se em um groove lento, criando uma atmosfera ameaçadora durante toda a faixa. Ambos os vocalistas trocam o protagonismo, complementando um ao outro, até que na metade da faixa somos brindados com um trecho acústico e vocais ao fundo, os quais definem o rumo do que está por vir. Assim, todo o grupo retorna e temos um solo que desenvolve uma melodia enquanto o dueto mantém-se presente. Aqui eclode um dos pontos altos do disco.

A próxima, “Dead Seraphic Forms”, possui sonoridade remanescente do segundo álbum do grupo, The Surreption, com elementos do hardcore mais presentes. O refrão segue com um lead de guitarra e o vocal com várias camadas para um canto em grupo, enquanto o groove realizado pela guitarra rítmica é repetido e remodelado à medida que a música avança.

Já em “Another Breath”, também lançada como single, é um ótimo exemplo do grupo apostando em novas possibilidades. A participação especial de Kirk Windstein, do Crowbar, é introduzida com vocais limpos após um trecho acústico, criando um ritmo mais lento e pessimista conforme a música vai se acelerando e trazendo os elementos agressivos. O mesmo retorna ao final da música para encerrar a faixa.

Nas primeiras vezes em que esse disco é executado, as duas próximas músicas, “Black Pill” e “Forsaken in Desolation”, passam despercebidas por serem as que menos trazem elementos que roubem a atenção. Não são faixas inferiores, porém não divergem muito do que foi apresentado até agora, não só nesse álbum, mas na carreira do grupo.

Leap of the Faithless”, a última do disco, possui nove minutos de duração, sendo a música mais longa já composta pela banda. Multifacetada e ambiciosa, aqui temos uma jornada que progride a cada minuto passado e não para até o segundo final, encerrada com uma percussão celebrando o marco. A enorme variedade musical apresentada faz com que, apesar de longa, a faixa nunca canse o ouvinte. É como uma recapitulação da jornada do grupo que demonstra toda evolução em uma conclusão épica, finalizando o disco com chave de ouro.

O disco é produzido por Christian Donaldson, guitarrista do Cryptopsy, também produtor no disco anterior, The Level Above Human. O resultado é ótimo, os instrumentos trazem a agressão e a melodia sem sobrepor uns aos outros e o mesmo pode ser dito dos vocais, em cada técnica diferente há o destaque sonoro necessário. Além disso, os momentos onde são criadas diversas camadas sonoras, seja como mencionado em “The List” ou na faixa final, é possível compreender cada detalhe do que está sendo tocado. Também vale destacar que o baixo tem uma grande presença aqui, assumindo um protagonismo em momentos como “The Burden of Our Failures”.

Apesar de algumas faixas chamarem menos atenção nas primeiras vezes em que experienciado, Where Only Gods May Tread é o melhor álbum de Ingested. É extremamente agressivo, melódico, atmosférico e sombrio, mas acima de tudo versátil, produz indo uma enorme variedade de sons que demonstra a vasta gama de influências musicais levadas em conta na produção do disco, além de catapultar o grupo para territórios não explorados anteriormente.

9/10

Ouça o álbum clicando aqui.
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