“Miss Americana” Não É Um Documentário Para Fãs de Taylor Swift

Nunca fui muito fã de Taylor Swift – nunca tive nada contra também – mas suas musicas extremamente românticas e sua imagem pessoal oscilante entre “garotinha perfeita” e “briguenta por motivo nenhum” fizeram com que eu não sentisse a mínima necessidade de me aprofundar em sua carreira musical ou qualquer coisa do tipo. 

É impressionante como 1 hora e vinte e cinco minutos carregados de material verídico podem mudar a sua perspectiva pessoal em relação a alguém. Miss Americana é mais do que um documentário musical. É a chance da Taylor Swift mostrar SUA versão da historia. Das várias delas. Da garotinha inocente e prodígio de Nashville a mulher que estava sempre envolta por vitimismo, finalmente chegou a vez da artista se mostrar como é: talentosa, forte e ao mesmo tempo, vulnerável. 

Recentemente, Swift ganhou do American Music Awards o prêmio de “Artista da Década”, o que levantou um debate intenso entre os apreciadores de música, afinal, o que Taylor fez de TÃO especial além de músicas country sobre relacionamentos para merecer o titulo numa década aonde surgiram simultaneamente Lady Gaga e Bruno Mars, por exemplo? Outro acontecimento recente com a cantora também foi a briga com o produtor Scooter Braun e a gravadora Big Machine Records, aonde eles retiraram de Swift o direito de ela usar suas PRÓPRIAS músicas, uma vez que agora ela mudou de gravadora e ela havia assinado o contrato que autorizava tal feito. Realmente, ela assinou. Aos 14 anos. Completamente crua na industria musical. E então, de repente, Taylor precisava lidar com as duras críticas em relação ao seu prêmio de Artista da Década (“superestimada!”), lidar com a dolorosa sensação de ver os primeiros anos da sua carreia indo pelo ralo e ter que se defender por isso, porque depois de tantas polêmicas associadas ao seu nome, quantos de nós acreditaríamos em sua palavra, não é mesmo?

Miss Americana retrata fase a fase da carreira musical de Taylor Swift através dos anos, para os fãs dela, talvez não traga muita novidade, para os fãs de documentário, talvez esse não seja dos melhores por mais bem produzido que seja, ele é um pouco vago: terminei com uma sensação de não saber muito sobre ela, sobre sua infância e ambições pessoais. Gostaria de ter visto vídeos de quando ela era mais nova e registros na tela do diário em que ela eventualmente lia. Gostaria de entender melhor sua relação familiar e seus relacionamentos em geral, mas uma coisa é certa: Taylor Swift é inteligente. Ela sabe muito bem o que quer mostrar. Sempre soube. E se “Taylor Swift É a Industria Musical”, é justamente isto o que ela vai por em pauta. 

É interessante – e prazeroso – observar um artista em sua forma mais limpa, natural. Em seu processo de criação, seja num estúdio, seja dentro de casa usando pijamas. É interessante observar como uma cantora que carrega o peso de ter a maior turnê feminina da historia dos Estados Unidos se sente insegura ao subir no palco. É interessante observar como uma mulher lindíssima e dentro de TODOS os padrões possíveis se sentiu afetada por comentários de estranhos relacionados a sua aparência, e de como uma garota que foi projetada para ser perfeita se sentia sufocada com a perfeição. Miss Americana não se aprofunda em Taylor Swift, ele a humaniza. 

Ao decorrer do documentário, é possível observar ano a ano detalhes que nós, que não éramos fãs da cantora deixamos passar ao longo desses dezesseis anos de carreira, como o fato obvio de que ela tem dezesseis anos de carreira aos trinta anos de idade, e que praticamente cresceu em frente aos olhos do público, e o fato de que ela teve que lidar com a invasão de ter estranhos criticando do seu físico a escolhas amorosas o tempo inteiro, e mesmo assim, ela continuava forte, se reiventando. Falando em se reinventar, nós só notamos sua capacidade de tal depois de assistir ao documentário: ela foi do country ao pop, ela mudou seu nicho, gênero musical, faixa etária, estilo pessoal e estética artística SEM perder estatísticas, muito pelo contrario: ela não apenas manteve os fãs que havia conquistado como se tornou uma das artistas mais rentáveis da historia – tendo quatro álbuns SEGUIDOS a vender 1 milhão de copias. Foi de uma das artistas femininas do country mais bem sucedidas a vencedora do Grammy de Melhor Album do Ano com o 1989, considerado um dos álbuns mais importantes do pop. 

Além disso, Taylor poderia ter se acomodado em sua fama, dinheiro e aceitação para permanecer quieta, mas ela não o fez. Ela SABE do quão longe sua voz pode ser ouvida e ela a usa muito bem, se posicionando politicamente, ajudando novos artistas, potencializando a industria musical e lutando a favor do feminismo. 

Todos esses detalhes foram despercebidos por aqueles que nunca se importaram diretamente com Taylor Swift, afinal, ela estava rodeada pela aura de “garotinha perfeita que faz música para adolescente” ou de “uma adulta que se briga com outros artistas como adolescente”. Miss Americana mostra o lado forte e frágil de Taylor Swift. Nos faz valorizar sua persona como artista, reconhecer seu mérito na colaboração da industria musical e entender que apesar de tão poderosa, ela também sente como qualquer um de nós. Disso tudo os fãs já sabiam. Mas para quem a desprezava mesmo que minimamente, Miss Americana é crucial. 

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