Em entrevista exclusiva ao ROCKNBOLD, artista britânico dá detalhes sobre novo trabalho, revela-se livre de limitações criativas e demonstra desejo de criar coisas diferentes: “quero aprender a abraçar e encarar tudo isso como um novo desafio“
A música indie, em seu auge, foi responsável por oferecer novos caminhos a artistas de diversos lugares do mundo. Se diz por aí que o gênero – e o termo, originado da língua inglesa como uma suposta abreviação para “independente” – surgiu nos anos 70 por jovens artistas que, em meio ao consumo da música mainstream internacional da época e a queda na popularidade de movimentos hippies, viram no underground a oportunidade de suas vidas: criar uma sonoridade um pouco distinta e distante da consumida nas lojas e rádios do país enquanto faziam-se questionamentos políticos e falavam sobre justiça social. O conceito do movimento, na verdade, tinha como objetivo principal empoderar os artistas a criarem e produzirem suas obras por si mesmos. E, por isso, a denominação indie ultrapassa as barreiras da sétima arte e pode ser aplicada também na indústria cinematográfica e tecnológica, etc.
Durante a transição da década setentista para a de 80, diversas bandas e artistas do rock, do pop e de todos os estilos originados destes dois gêneros (e, aqui estamos falando do punk, do new wave, do synthpop e de tantos outros) resolveram se livrar das “amarras criativas” causadas pelas gravadoras – que, de forma majoritária priorizava apenas os lucros que por ventura poderiam ter – e começaram a produzir, de forma independente, trabalhos onde realmente conseguiam expressar as próprias visões sem influência externa. E foi assim que o indie começou a possuir as próprias características. Bandas como The Smiths, Talking Heads, New Order, Echo & The Bunnymen, Oasis, Muse, Strokes, Arctic Monkeys e muitas outras tornaram-se referências do estilo, influenciando novos e jovens artistas que se apaixonaram pela sonoridade mais underground das canções. Hoje, é possível se dizer que o indie se tornou mainstream e que grande parte do público abraçou o estilo com a paixão que possuem pela arte. E é nesse capítulo da história que entra o britânico Jake Edwin Kennedy, mais conhecido como Jake Bugg.
Jake Bugg foi a grande promessa do indie em meados de 2010. O jeito introvertido, as músicas com críticas a sociedade em que estava inserido, as angústias amorosas e as respostas para alguns artistas da época com certeza fizeram com que o cantor se tornasse um dos pontos mais brilhosos nos radares do público consumidor árduo de cultura e arte por aí.
Em 2012, lançou seu primeiro álbum, homônimo, mostrando-se um artista que, já naquela época, trazia referências setentistas em sua obra. No trabalho apresentou para o mundo um jovem britânico talentoso que com seu violão e sua guitarra conquistou muitos fãs ao redor do planeta, inclusive os brasileiros. Em novembro de 2013, seu segundo álbum de estúdio Shangri La voltou a chamar atenção do público brasileiro, o que garantiu a Jake um espaço no line up do Lollapalooza Brasil (com direito a Lolla Party no Cine Joia) e, em seguida, três datas no país em novembro do mesmo ano. O que mais surpreendeu os fãs paulistanos nas apresentações em questão foi a roupa escolhida: uma camisa amarela ao invés da já tradicional roupa preta usada pelo cantor.
No ano de 2016 veio o On My One, álbum que não chamou muita atenção da crítica. Neste projeto, Jake usou de suas influências no rap com batidas mais aceleradas que infelizmente desagradaram muitos ouvintes e rendeu comentários mistos para seu trabalho, desde de “decepcionante e desinteressante” até “inseparavelmente diverso e inesperadamente pessoal“. Mesmo com críticas tão díspares, os fãs brasileiros ganharam três datas dessa turnê em Rio de janeiro, São Paulo e Belo Horizonte durante o mês de março de 2017.
Em seu quarto álbum de estúdio Hearts That Strain, lançado em setembro de 2017, a crítica continuou dando respostas mistas sobre o som do cantor. Esse projeto devolve o artista mais próximo de sua origem folk, com um toque de eletrônico e o tom mais suave aos ouvidos – consideravelmente ensolarado para o britânico.
Após seu contrato com a Virgin EMI expirar, Bugg se prepara para lançar seu quinto álbum de estúdio, porém, será o primeiro pela RCA Records (Sony Music), sua nova gravadora. A mudança já começou com a colaboração entre Jake e CamelPhat. “Be Someone“ foi lançada em junho de 2019, onde a gravadora decidiu unir os artistas para ver o que poderia surgir da união. O resultado foi muito satisfatório e você pode conferir abaixo.
O single “Kiss Like The Sun“ é a primeira música de Jake como artista na RCA. Mostrando que voltou repaginado e ainda influenciado pelo folk rock, canção possui um ar mais moderno e aberto para as novidades do mercado. Além disso, marca a transição de Bugg para uma nova fase, onde o artista se reinventa para relançar sua carreira.
O ROCKNBOLD conversou com o cantor sobre o início da carreira, novo álbum e turnês, principalmente em um ano atípico como 2020. Acompanhe o nosso bate-papo sincero e direto com Jake abaixo:
ROCKNBOLD: Olá Jake tudo bem? Primeiramente, muito obrigada pelo seu tempo
JAKE : Estou bem, obrigado! Imagina, obrigado!
ROCKNBOLD: Seu último álbum lançado “Hearts That Strain” e seu mais recente single “Kiss Like The Sun” possuem um tom mais feliz comparado com seus trabalhos mais antigos. O que estimulou essa mudança? É algo que veremos no seu futuro álbum?
JAKE : Sim, eu estou trabalhando com diferentes produtores, estou trabalhando com Andrew Watt (Post Malone, Lana Del Rey), ele possui um lado mais pop para a produção, mas acho que funciona bem para o meu novo som.
ROCKNBOLD: Desde que seu álbum de estréia foi lançado em 2012, muitas coisas mudaram. Você sente diferença no peso e no tom das críticas daquela época para os dias atuais?
JAKE: Sim, acredito que sim. Eu fiz algumas músicas com rap desde então e continuo fazendo o que gosto, escrevendo minhas músicas e não prestando muita atenção a isso, então acho que provavelmente mudou, mas continuo sendo eu mesmo.
ROCKNBOLD: O que mudou no seu processo criativo desde o início até hoje? E que elementos diferentes podemos esperar no novo trabalho?
JAKE: Eu acho que no processo criativo eu estou definitivamente mais aberto a novas ideias do que era antes. Eu tenho trabalhado com produtores de pop, explorando sons modernos, novos e coisas assim, então eu acho que estou experimentando mais.
ROCKNBOLD: Você trabalhou com pessoas de lugares diferentes. Como foi o processo e qual foi o maior desafio?
JAKE: Eu tenho trabalhado na Suécia e em Los Angeles, estou em contato com muitos escritores e produtores diferentes, vendo o que funciona a partir disso e acho que está dando certo até agora. Eu diria que o maior desafio está em eu conseguir expressar todas as ideias que tenho sobre música moderna, produção pop e música, deixar isso fluir um pouco mais. Aprender a abraçar e encarar tudo isso como um novo desafio, experimentando para criar coisas diferentes.
ROCKNBOLD: Você continua com suas influências anteriores, como Johnny Cash, Neil Young ou você teve outros artistas que ouviu enquanto trabalhava nisso?
JAKE: Sabe, eu sempre tive essas influências de forma bem ampla, quero dizer, eles sempre estiveram comigo, mas eu tenho tentado incorporar todas elas em um som e em abordagens mais modernas. Com essas influências eu tenho que ouvir muita música moderna.
ROCKNBOLD: Você sente falta de estar em turnê ou prefere o processo de criação de um novo álbum?
JAKE: Eu amo ambos os processos! Eu sinto falta de estar em turnê no momento mas, por causa de tudo o que acontecendo estou aproveitando a oportunidade de criar mais músicas novas e escrever mais algumas músicas, então eu apenas espero.
ROCKNBOLD: Você gosta de mudar algumas músicas da setlist nos diferentes lugares que você toca. Você tem algum padrão específico ou segue por intuição? Há algo que você notou que os fãs brasileiros gostam mais?
JAKE: Quando vamos ao Brasil eu diria que os fãs gostam das músicas mais tristes e das baladas às vezes, então tentei tocar um pouco dos dois tipos, mas sim, é praticamente por intuição. Eu gosto de olhar o local, sentir o tipo de atmosfera do ambiente que estarei, se será de dia ou á noite e produzir a partir daí.
ROCKNBOLD: Poderíamos saber qual música você está mais animado em tocar ao vivo? Pode dizer o tema da música e sobre ela, se não quiser dizer o nome.
JAKE: Eu acho que todas estão na internet. É uma pequena canção de amor chamada “Habits” que estamos tocando, não tenho certeza se estará no álbum, mas gostamos de tocá-la. Tem “Scene”, que é mais uma balada e nós tocamos outra música chamada “Rabbit Hole” também, é mais rock psicodélico e pop, assim tentamos tocar novas músicas. Sinto que é um novo som para mim e uma nova direção na minha carreira desde então.
ROCKNBOLD: Por conta do coronavírus, muitos shows e lançamentos de álbuns foram adiados. Você tem alguma percepção sobre as mudanças na relação artista-fã? Para você, o palco ainda é uma parte muito importante ou consegue se ver fazendo uma transmissão ao vivo?
JAKE: Sim, acho que definitivamente muda tudo, especialmente na indústria da música e sobre o que escrevemos, então eu acho que definitivamente haverá um conteúdo mais especial sobre isso, me incluo tocando músicas em livestreaming e coisas assim, mas, este é o grande momento e uma oportunidade de escrever mais também.
ROCKNBOLD: Por último mas não menos importante. Você tem algo que queira contar para seus fãs (não necessariamente os brasileiros)?
JAKE: Bem, eu realmente sinto saudade do Brasil, já faz um tempo desde que estivemos aí, desejamos poder voltar muito em breve para vocês, quando tudo estiver um pouco melhor no mundo. Realmente sentimos falta de todos, então estaremos de volta muito, muito em breve.
ROCKNBOLD: Muito obrigado pelo seu tempo! Eu e seus fãs brasileiros realmente apreciamos isso, então muito obrigado! Espero que possamos vê-lo em um show no Brasil em breve!
JAKE: Muito obrigado, eu realmente sinto falta do Brasil, então muito obrigado!
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