O experimentalismo incerto de Sufjan Stevens & Lowell Brams

“Aporia” peca na falta da excelência do já reconhecido artista.

A parceria entre Sufjan Stevens e seu padrasto não é uma surpresa para os fãs ferrenhos do artista. Os dois fundaram uma gravadora, já haviam trabalhado juntos em um álbum em 2008 e a figura paterna também foi uma das inspirações para o fenomenal “Carrie & Lowell” lançado por Sufjan em 2015.

Outro que todo mundo também já sabe, é que Sufjan não é um artista normal. Ao observarmos sua discografia, encontramos desde seu clássico indie folk, passando por obras mais orquestradas, música eletrônica e até uma coletânea de cinco discos de músicas natalinas. Em 2017, chegou até a concorrer ao Oscar pela música “Mystery of Love”, que integra a trilha sonora do filme “Me Chame Pelo Seu Nome”.  

No final do mês passado, ele lança com seu padrasto “Aporia”. Majoritariamente instrumental, o álbum é uma representação do estilo new-age, com toques de música eletrônica. Entretanto, mesmo com uma premissa interessante, o disco de 21 faixas passa despercebido.

Lowell e Sufjan

A ideia de que estamos dentro de um filme ou de uma espaçonave permeia durante todos os 42 min de sua duração, mas a sensação imersiva não faz o ouvinte apreciar o disco. “Aporia” é um álbum com algumas composições bonitas, mas você não fica interessado em ouvir mais de uma vez. Esse fato pode ocorrer por um simples motivo: não é inovador. Por exemplo, a faixa “Afterworld Alliance” se assemelha muito ao trabalho do Trent Reznor (Nine Inch Nails) na trilha sonora original de “A Rede Social”.

Além disso, a maioria das músicas parecem inacabadas, são curtas demais. Faixas como “For Raymond Scott” e “Palinodes” são compostas por sintetizadores que não transmitem nada além de tédio. Com menos de um minuto de duração cada, o ouvinte já não sente mais interesse no que resta do conteúdo. Stevens é um artista com muito potencial, o que parece ser ignorado pelo o próprio em seu último lançamento.

Por outro lado, “Afterworld Alliance”, “Captain Praxis” e “What It Takes” valem ser ouvidas, principalmente, por apresentarem melhor o universo do álbum. As três possuem batidas eletrônicas relevantes e um começo, meio e fim. Provavelmente, a salvação vem em “The Runaround”, em que Lowell e Sufjan mostram que conseguiram no disco compor algo experimental de qualidade juntos.

Sufjan Stevens é um dos poucos artistas que possuem carta-branca de seus fãs para lançar projetos cada vez mais experimentais e diferentes. Mesmo assim, “Aporia” peca na falta da excelência que tanto o fez ser reconhecido mundialmente.

4/10

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