Pabllo Vittar retorna às raízes em “Batidão Tropical”

Em seu quarto álbum, a drag queen maranhense apresenta músicas inéditas e novas roupagens de grandes sucessos do forró dos anos 2000, mesclando ritmos e retomando as suas origens

Um anel no dedo e o anúncio de um noivado em rede nacional durante o show no Big Brother Brasil. Foi com os rumores de um possível casamento que Pabllo Vittar deu início ao lançamento de seu quarto disco, Batidão Tropical, lançado na última sexta-feira de junho. O álbum é descrito pela drag queen como uma homenagem ao forró dos anos 2000 do Norte e do Nordeste e pode ser considerado como o trabalho mais pessoal da carreira dela até então. 

Com nove faixas, a obra traz três músicas inéditas e seis covers de grandes grupos do forró, como Companhia do Calypso, Banda Ravelly e Banda Batidão. Apesar das homenagens ao ritmo, as novas versões apresentadas por Pabllo Vittar também mesclam elementos do tecnobrega, do hyper pop, da PC music e até mesmo do k-pop, contando com a produção da Brabo Music (time de produtores formado por Arthur Marques, Maffalda, Pablo Bispo, Rodrigo Gorky e Zebu).

Para quem acompanha a carreira de Pabllo, a paixão da artista pelo forró não é nenhuma surpresa, considerando que uma das grandes influências da drag é a cantora Mylla Karvalho, vocalista do grupo Companhia do Calypso. O nome de Karvalho sempre foi mencionado pela intérprete por meio de entrevistas e transparece ao analisarmos a obra de Vittar. Em Batidão Tropical,  por sua vez, o trabalho da Companhia é homenageado três vezes, nas músicas “Ânsia”, “Zap Zum” e “Bang Bang”. 

Pabllo Vittar e Mylla Karvalho. Fotos: Reprodução.

Já aqueles que não conheciam o impacto de Mylla Karvalho e a Companhia do Calypso na vida de Pabllo Vittar certamente procuraram a respeito: dados do Google Trends apontam que as pesquisas sobre a cantora de forró e o grupo apenas no final de semana de lançamento de Batidão Tropical quase triplicaram. Esse não foi o único número positivo possibilitado pelo álbum, que fez com que a drag crescesse cerca de 423% na plataforma do Deezer.

O novo trabalho da artista caminha na contramão da proposta do lançamento anterior, o álbum 111, que apresenta composições e feats em português, inglês e espanhol. Mesmo com hits como “Amor de Que” e “Parabéns” na versão tradicional do disco e “Bandida” na versão deluxe, a fase trilíngue pode ser considerada a mais fraca ao ser comparada com Vai Passar Mal e Não Para Não, primeiros lançamentos de Vittar. 

Ao contrário de 111, que tinha o intuito de atingir principalmente o público internacional por meio de participações especiais como a de Charli XCX e de Thalía, em Batidão Tropical, Pabllo volta às raízes presentes em sua infância e adolescência, fases que foram vivenciadas entre os estados do Maranhão e do Pará. O resultado foi um álbum conciso que traz o melhor do forró dos anos 1990 e 2000, além de reforçar a potência da drag queen em criar trabalhos cada vez mais elaborados e capazes de imprimir a sua história por meio das canções apresentadas. 

Foto: Ernna Cost.

Primeira música e primeiro single de Batidão Tropical, “Ama Sofre Chora” com certeza seria o hit do Carnaval se estivéssemos fora da pandemia. Com um refrão chiclete e um ritmo contagiante que mistura o tecnobrega e o forró, é possível relembrar o clima de aglomeração atrás de um trio enquanto ouve a canção. O clipe da música ainda retomou a ideia do casamento apresentada pela drag no BBB, mostrando uma Pabllo de véu e grinalda cantando que “Piranha também ama/Piranha também chora/Piranha também sofre se você ignora” na hora do altar. 

“Triste com T”, segunda canção do álbum, segue a linha apresentada na primeira música, com um refrão viciante e que gruda na cabeça. Há o contraste entre o forró intenso, que é capaz de colocar qualquer um pra dançar, da produção da música com a letra, que é mais melancólica. O destaque vai para o clipe, que traz uma coreografia que mescla elementos usados pelos grupos de k-pop BLACKPINK (“Lovesick Girls” e “How You Like That”) e ITZY (“Not Shy”), dos quais Pabllo é fã, e encerra a trajetória introduzida no vídeo de “Ama Sofre Chora”. 

Última música inédita de Batidão Tropical, “A Lua” apresenta um ótimo trabalho vocal de Pabllo. Com falsetes impactantes, a música cresce a cada ouvida, podendo ser considerada facilmente como uma das melhores do disco. A letra também retoma temas presentes nos forrós dos anos 2000, falando sobre um amor encantado e que é prometido pelos astros, como acontece nos grandes sucessos da Banda Calypso e da Banda Limão Com Mel, por exemplo.

É a partir de “Ânsia” que Pabllo começa a homenagear de fato as suas raízes. O primeiro dos covers da cantora foi lançado primeiro pela Banda Brega.com, mas a artista reforça que a versão de maior impacto para a sua trajetória criativa foi a da Companhia do Calypso. A nova roupagem da canção produzida pela drag traz uma batida viciante, com o sintetizador clássico do forró e elementos do hyper pop nas batidas.

Na sequência, vem a nova versão de “Apaixonada”, sucesso cantado pela Banda Batidão. A música talvez é a produção de Batidão Tropical que mais traz as texturas do tecnobrega, marcada mais uma vez por falsetes e por um sintetizador potente. Em relação ao resto da tracklist, é a canção mais fraca, mas nem por isso deixa de ser uma ótima regravação feita pela drag.

Em “Ultra Som”, música mais curta de Batidão Tropical e cover da Banda Ravelly, Pabllo admitiu que tentou reproduzir a sensação futurística das batidas de PC music presentes em “So Bad”, single do girl group de k-pop STAYC, na construção do instrumental da canção. A mescla da produção mais eletrônica e do tecnomelody já presente na versão original da faixa resultou em uma das criações mais interessantes do álbum.

Foto: Ernna Cost.

A fórmula de unir o melhor do forró dos anos 2000 com novas batidas e roupagens é reforçada na canção “Não É Papel de Homem”, cantada originalmente por Banda Kassikó. Em entrevista ao portal Popline, Pabllo reforçou que essa música foi um grande sucesso quando a drag ainda era adolescente, e por isso a homenagem foi realizada. A mesma coisa aconteceu com “Zap Zum”, segunda canção da Companhia do Calypso homenageada no disco, que apresenta uma das batidas mais animadas de toda a obra.

Em “Bang Bang”, outra versão de Companhia do Calypso, o álbum é finalizado de forma concisa e consistente, representando o bom trabalho de Pabllo de representar suas raízes e mesclar isso ao melhor do pop nacional. Além disso, a regravação é capaz de deixar um gostinho de quero mais para aqueles que entraram em contato com o trabalho da drag, refletindo sobre quais serão os próximos passos da artista nos próximos álbuns.

9/10

Ouça!

5/5
Total Score
Total
0
Shares
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Related Posts