O que esperar de ‘Typhoons’, o terceiro álbum do Royal Blood?

Do rock sombrio ao groove dançante, o Royal Blood deixa claro que não está disposto a colocar limites em seu terceiro álbum de estúdio, ‘Typhoons’.
imagem mostra typhoons álbum royal blood

Do rock sombrio de “Out Of The Black” ao groove dançante de “Trouble’s Coming”, o Royal Blood deixa claro que não está disposto a colocar limites criativos na missão de criar uma sonoridade única em seu terceiro álbum de estúdio, ‘Typhoons’.

Em uma era onde o rock luta para se manter relevante e atual na busca da originalidade sonora, o duo britânico Royal Blood, formado em 2013, surgiu como uma agradável revelação que se recusa a ser mais do mesmo. Com referências do dirty, hard e garage rock, a banda composta por Mike Kerr e Ben Thatcher trouxe como sua principal característica a proposta do rock sem guitarras. Em vez disso, Kerr utiliza baixos e um set bastante completo e misterioso de pedais para atingir a sonoridade de riffs e solos de guitarra, além da potente bateria de Thatcher. Não é a toa que a banda ficou conhecida pela frase “como duas pessoas conseguem fazer tanto barulho?”.

O primeiro álbum do duo, homônimo, foi lançado em agosto de 2014 com as bênçãos de ninguém menos que Arctic Monkeys, uma vez que o baterista Matt Helders usou uma camiseta da banda durante o festival Glastonbury 2013, antes mesmo do lançamento do primeiro grande trabalho. O gesto parece ter rendido bons frutos ao duo. Royal Blood (2014) foi considerado um sucesso comercial bem recebido pela crítica, e trazia como faixas de destaque os singles “Out Of The Black” e “Little Monster”. A sonoridade obscura, potente e sensual chamou a atenção de gigantes do rock, como Dave Grohl, James Hetfield e Jimmy Page.

“Eu fui ouvi-los em Nova York. Eles foram fantásticos. Absolutamente fascinante, eles são músicos tão finos. Seu álbum tornou-se algo sério em alguns detalhes. É tão suave de se ouvir, porque eles tocam com os espíritos das coisas que os precederam, vocês têm de ouvir, eles vão elevar o rock a um novo nível — se eles já não estão o fazendo, já que sua música é de qualidade tremenda”

Jimmy Page, guitarrista do Led Zeppelin

How Did We Get So Dark?

Em 2016, o Royal Blood já havia conquistado seu lugar ao sol do rock britânico. A banda já era destaque em grandes festivais e abria shows para o Foo Fighters e Muse, quando anunciou seu segundo álbum de estúdio, o How Did We Get So Dark?, lançado em junho de 2017. O novo álbum trazia como destaque o single homônimo, além dos hits “Lights Out” e “I Only Lie When I Love You”, com uma sonoridade muito fiel e contínua em relação ao primeiro álbum, porém um tanto quanto mais dançante e experimental ao agregar mais instrumentos em algumas composições, como o teclado na faixa “Hole In Your Heart”. A canção inclusive já chegou a ganhar uma versão com guitarrista!

Outra novidade era a adição de backing vocals, tanto na gravação em estúdio como durante apresentações ao vivo, o que dava um charme a mais para as composições. As mudanças eram vistas como ousadas para uma banda que tinha se consagrado apenas com o som básico, cru, porém audacioso, do baixo e bateria. Ainda sim, no segundo álbum, as composições pareciam fieis à proposta original de um rock potente e de qualidade feito por um duo sem guitarras, que ao mesmo tempo soava como uma banda de cinco pessoas.

“Trouble’s coming but I still don’t know when”

Com o fim da turnê do segundo álbum em 2018, Miker Kerr prometeu aos fãs que após uma breve pausa e um merecido descanso, a banda voltaria ao estúdio para trabalhar no novo material. O descanso durou dois anos, e em setembro de 2020 fomos agraciados com o primeiro vestígio do que viria ser a terceira era do Royal Blood. Após o hiatus, “Trouble’s Coming” chegou em meio à pandemia como uma Coca-Cola no deserto para seus fãs, que mais uma vez puderam constatar que a banda definitivamente não decepciona quando o assunto é riff, sonoridade intensa, letras e produção de qualidade.

Logo no primeiro single tivemos a oportunidade de notar um vislumbre de outra novidade que pode nos aguardar na próxima era: o groove. Mais do que nunca, Kerr e Thatcher se empenharam em produzir algo único na cena do rock atual, um tanto quanto menos sombrio do que os dois primeiros álbuns, que chega a flertar com alguns elementos da disco music. O baixo de Kerr se empenha em um som mais groovado do que nunca, chegando a ser quase dançante. A vibe mais positiva se torna evidente até mesmo em suas redes sociais, onde as postagens mais obscuras e monocromáticas deram lugar à cores mais vivas e brilhantes em fotos, vídeos e até mesmo em filtros compartilhados com os fãs.

“Typhoons keep on raging and I don’t know why”

O duo de Brighton deu sinais da nova era pela primeira vez em 2021 na última semana, mais precisamente na última quinta-feira (21), quando a faixa “Typhoons” foi divulgada durante o programa da radialista Annie Mac, na BBC Radio 1, e chegou mundialmente às plataformas de streaming. A canção que dará nome ao terceiro álbum de estúdio da banda, assim como “Trouble’s Coming”, traz riffs de baixo impregnados de groove, backing vocals e batidas que tornam a composição dançante. Se para bom entendedor meia palavra basta, a consistência entre as canções revela o caminho que o duo decidiu seguir no novo álbum. As canções não estão mais tão cruas, contando com camadas de batidas e distorções que tornam as composições mais complexas. A bateria também não está tão agressiva e dura quanto já foi, adquirindo certa “liberdade” no groove. Duas características da canção merecem menções honrosas: a ponte que liga os versos da música ao refrão, e os riffs hipnóticos espirais que despertam labirintite mesmo em quem está parado.

Segundo declarações de Mike Kerr e Ben Thatcher, a composição de ‘Typhoons’ envolve influências de grandes nomes da música eletrônica como Daft Punk, Justice e Cassius: “Nós meio que tropeçamos nesse som e foi imediatamente divertido de tocar”, lembra Kerr. “Isso é o que despertou a criatividade no novo álbum, a busca por esse sentimento. É estranho, porém – se você pensar em ‘Figure it Out’, meio que contém o embrião deste álbum. Percebemos que não tínhamos que destruir completamente o que criamos até agora; nós apenas tivemos que mudar isso, transformar isso. No papel, é uma pequena reinvenção. Mas quando você ouve, soa tão novo“.

O que esperar de “Typhoons”, terceiro álbum do Royal Blood?

É inegável que o Royal Blood está preparado para ser maior e melhor do que nunca e disposto a largar um pouco da sonoridade sombria para assumir os riscos de um som mais complexo, estruturado e bem orquestrado, sem abandonar a consistência sonora construída ao longo da carreira. Desta forma, espera-se que em seu terceiro álbum, a banda que promete tomar os holofotes de grandes palcos no futuro se sinta mais livre para explorar elementos e referências que tinham vontade, mas evitavam para não fugir da proposta crua e sombria. Mike Kerr chegou a revelar em algumas entrevistas que não queriam criar ‘só mais um álbum do Royal Blood’, e por isso empregaram elementos que os agradavam, como o groove. O duo também promete letras mais honestas e vulneráveis, com menos foco em relacionamentos e frustrações, e mais autoanálises e crises entre os próprios pensamentos.

“Typhoons” ainda traz uma uma surpresa já conhecida pelos fãs. A energética “Boilermaker” foi apresentada durante a icônica apresentação da banda o festival Reading Festival 2019, e não só agradou, como também gerou ainda mais ansiedade entre os fãs. Produzida por Josh Homme, do Queens of The Stone Age, a canção faz jus à reputação que tem por seus riffs agressivos e vocais intensos. Já “King“, também revelada com antecedência durante a tour, trazia uma sonoridade intensa, crua e pesada parecida com seus dois primeiros trabalhos e parece ter ficado de fora do terceiro álbum – ou mudado de nome.

Em entrevistas, Mike Kerr chegou a revelar que não descartava a possibilidade de usar outros instrumentos, e até mesmo a possibilidade de adicionar um novo membro na banda, mesmo como apoio, caso sentisse a necessidade. Talvez este seja o preço a se pagar pela expansão sonora, afinal de contas, o céu é o limite para a criatividade do Royal Blood. Apesar da declaração, fãs concordam que Kerr não jogaria fora as duas características que os consagrou como banda: um duo de baixo de bateria — às vezes, com teclado um também. Ainda sim, se reinventar sonoramente e ousar na busca de um som mais complexo e elaborado custaria caro para a banda, que seria forçada a se virar com mais pedais e possivelmente mais instrumentos ao vivo sozinhos. Mas será que a banda estaria mesmo disposta a mudanças tão radicais para isso? Sem sombra de dúvidas, sim. Sair da zona de conforto não parece ser um desafio para Mike e Ben, muito menos experimentar.

Typhoons chega às plataformas de streaming mundialmente no dia 30 de abril. Não satisfeito com a inacreditável discografia que já possuem em menos de dez anos de estrada, Mike Kerr promete: “Este é nosso melhor álbum“.

TRACKLIST DE “TYPHOONS”, NOVO ÁLBUM DO ROYAL BLOOD:

1. Trouble’s Coming
2. Oblivion
3. Typhoons
4. Who Needs Friends
5. Million & One
6. Limbo
7. Either You Want It
8. Boilermaker
9. Mad Visions
10. Hold On
11. All We Have Is Now

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