Grupo britânico embarca em montanha-russa apocalíptica em seu mais novo EP, “POST HUMAN: SURVIVAL HORROR”
É de convicção do grande público que o Bring Me The Horizon se tornou uma das maiores bandas do planeta, muito pela evolução e autenticidade no seu som, que atraiu uma quantidade gigantesca de novos apreciadores, que alavancou o grupo britânico a astros mundiais no seu gênero… mas como podemos os caracterizá-los? Bom, desde o seu terceiro disco do estúdio, There Is A Hell Believe Me I’ve Seen It. There Is A Heaven, Let’s Keep It A Secret, o BMTH passou por um “amadurecimento” constante, saindo da gritaria veloz do deathcore, passando pelo metalcore e hardcore, até se adaptar e conseguir utilizar muitas vertentes do pop, música eletrônica, metal alternativo e diversos outros estilos.
Com o lançamento de amo no início de 2019, se tornou perceptível um caminho tomado pela banda: mesmo com “flashes” da sua pegada mais pesada, como em “Wonderful Life“, a tendência era seguir um padrão de formato musical que fosse mais acessível ao “grande público”, que já tinha sido iniciado no trabalho antecessor, That’s The Spirit, de 2015. Porém, em meio a este momento caótico e incomum que o mundo inteiro vive com a pandemia da COVID-19, a banda de Oliver Sykes decidiu trabalhar mais e mais para produzir o que foi chamado pelos fãs de “BMTH8”, em alusão ao oitavo trabalho da banda, já que o último EP, Music To Listen To…, entra na discografia.
Com o nome de “POST-HUMAN: SURVIVAL HORROR“, que será apenas o primeiro de alguns EPs que deverão ser lançados pelo grupo nos próximos meses, o Bring Me The Horizon nos apresenta uma visão apocalíptica do contexto atual no planeta terra, com o foco totalmente voltado aos sentimentos do ser humano, como as drásticas e contínuas mudanças na saúde mental de cada um nesses vários meses presos dentro de casa. Além disso, a banda faz um questionamento importante: será que o homem vai aprender algo com essa experiência? Os britânicos trataram de trazer uma reflexão profunda sobre questões que nos levam a crer que o fim do mundo pode estar bem mais perto do que parece, e isso é algo que precisamos nos preocupar constantemente.
Contudo, o grande porém é: diferente do que produziu em amo, o quinteto transmite tudo isso de maneira intensa e agressiva, levando o ouvinte para uma montanha-russa que vai agradar muito os fãs mais “xiitas”, que sentem falta de riffs mais velozes, gritos de Oli Sykes, linhas de bateria em tempos acelerados e, claro, os breakdowns de derrubar qualquer um da cadeira. Oliver sabia que para transmitir de maneira incisiva o que ele tem a dizer, ele necessitava chamar a atenção do público – e até por isso que o vocalista prefereu retornar com os gritos e berros característicos de suas eras mais antigas -, pois só dessa forma quem escuta realmente iria entender o que ele quer passar e mostrar no meio deste cenário apocalíptico.
Faixa a faixa
Logo na primeira faixa do trabalho, dá para perceber que a banda não vem para brincadeira. “Dear Diary” nos apresenta Sykes furioso com tudo que está acontecendo no mundo, batendo na tecla das mudanças de sentimentos durante o lockdown, em uma música que remete a tempos de “There Is A Hell”, de bateria incessante e fragmentos de guitarra jogados de maneira veloz do início ao fim. Em seguida, “Parasite Eve“, um dos singles mais queridinhos do público, inicia uma forma de construção musical que será vista em outras duas faixas: início mais “intimista”, um pré-refrão que te “empolga” e abre espaço para o refrão que antecede o retorno da construção inicial (mas que no segundo verso vem de forma mais “agressiva”) e constrói a atmosfera perfeita para o clímax da track: uma transição apoteótica antes de um breakdown cru, pesado e direto. Canção forte e que faz aquela pergunta: será que aprenderemos a lição ao fim disso tudo?
Após um início bem intenso, chegamos em “Teardrops“, música que, de cara, mostra clara influência da banda Linkin Park, com elementos eletrônicos impecáveis, uma guitarra cativante e uma bateria que chama atenção (Matt Nicholls está perfeito no EP, por sinal). Esta faixa é, provavelmente, a mais “chiclete” do trabalho.
Iniciando as parcerias, logo depois temos a enérgica “Obey“, que conta com a participação do astro em ascensão YUNGBLUD e tem uma letra focada na opressão política. Lembram da estrutura musical citada em “Parasite Eve“? Ela aparece aqui mais uma vez, por mais que a música tenha uma progressão mais veloz e intensa, sem ser tão “sombria”.
“Itch For The Cure (When Will We Be Free?)” é um interlúdio que prepara o ouvinte para a próxima “porrada” do EP, que é a tão esperada colaboração entre a banda e o grupo japonês BABYMETAL. “Kingslayer“, mesmo com as partes de vocal agudo das japonesas, é uma faixa que agrada bastante os fãs antigos da banda, com uma mistura excelente do hardcore com elementos do screamo. Algo impressionante aqui são os vocais de Oli, que alternam entre algo agressivo e melódico até pitadas de influências da época deathcore. É uma música com muito para engolir, mas que não desce com dificuldade.
A faixa seguinte mostra a facilidade criativa do que é, hoje, uma das maiores bandas da indústria. Após uma track agressiva, o quinteto retorna a estrutura e arranjo “comum” dos últimos trabalhos em “1×1“, mais uma parceria, dessa vez com a dupla britânica das Nova Twins. Elementos eletrônicos bem formados, um vocal bem mais melódico e um riff que acerta perfeitamente tudo o que se propõe a fazer, por mais que não seja inovador. Assim como “Teardrops”, um refrão altamente chiclete que ainda demonstra certas influências de Linkin Park.Na sequência, o primeiro single lançado, ainda no ano passado, dá suas caras: “Ludens” é conhecida por qualquer fã e também entra no grupo seleto de criações estruturais de “Parasite Eve” e “Obey”, mas que não fica nem um pouco para atrás na qualidade. Música marcou (mais) uma “nova era” no BMTH dando o pontapé inicial para tudo o que estaria por vir.
O EP se encerra com uma faixa melancólica e que, mais uma vez, mostra a impressionante versatilidade em produções musicais do Bring Me The Horizon. “One Day The Only Butterflies Left Will Be in Your Chest as You March Towards Your Death” (ufa!) é a perfeita soundtrack para um mundo pós apocalipse, liderada por Oli Sykes e Amy Lee, vocalista do Evanescence. Apenas um piano, que depois vê uma entrada bem intimista de uma guitarra, mas que realmente se destaca pelas linhas de voz de ambos, que volta e meia harmonizam entre os versos, e uma espécie de “espíritos audíveis” no background. Sem sombra de dúvidas, uma das composições mais lindas e até emocionantes da discografia inteira da banda, que encerra com chave de ouro o EP.
O resultado é mais um trabalho autêntico, versátil e que só os britânicos tem, ao mesmo tempo, a coragem e qualidade necessárias para realizar. As letras são impactantes e reflexivas. As composições são marcadas, realmente, por uma montanha-russa que passa por várias subidas e descidas, sejam elas intensas, agressivas, divertidas ou melancólicas. O “POST-HUMAN: SURVIVAL HORROR” traz praticamente tudo que a banda já produziu até hoje, mas com acertos concretos nos detalhes e o claro amadurecimento em como produzir música nos dias atuais. O futuro é agora, o Bring Me The Horizon está preparado e te leva nessa viagem para se descobrir no meio do cenário atual do mundo.