Para esse ano totalmente atípico de 2020, em que tudo foi extremamente cansativo, nada salvou mais a sanidade mental de todos do que a arte. Consequentemente, enquanto todo esse caos acontecia, a indústria da música continuava girando, e nessa cadeia produtiva, o pop manteve seu lugar de relevância. Por isso, trouxemos para vocês alguns dos álbuns de maior destaque do pop internacional 2020. Acompanhe abaixo a nossa lista.
Halsey – Maniac
Sendo esquecido por algumas premiações importantes desse ano, chega até parecer que o Manic, terceiro álbum de estúdio da Halsey, não foi lançado em 2020, mas ele foi sim, lá em 17 de janeiro, antes de todo esse caos que vivemos hoje vir a acontecer.
Com preferências à parte, podemos dizer ao menos, que essa é a produção mais madura da carreira de Halsey, que escolheu trabalhar livremente, e sem pensar em produzir hits de sucesso estrondoso que a fizesse ser amada pela idolatrada indústria fonográfica. O disco lhe rendeu milhares de críticas extremamente positivas, alçando o Maniac para a primeira posição – na opinião da imprensa especializada em crítica musical -, quando comparado aos dois álbuns antecessores da cantora. Sob o ponto de vista sonoro, Manic entrega um álbum que é uma confusão boa, te fazendo emergir em um universo não definido com: pop, folk, country, rap, eletrônico, sem obedecer um estilo definido, e surpreendendo a cada música. O álbum conta com um lado A e B (27 músicas) e parcerias bem diversificadas como: BTS, Alanis Morissette, Suga, Marshmello e Dominik Fik.
Rina Sawayama – Sawayama
Enquanto vários artistas buscaram referências oitentistas para suas produções, Rina Sawayama viu na década de 2000 sua maior fonte de inspiração. SAWAYAMA, seu álbum de estreia, é carregado de nostalgia para quem cresceu em uma época musical pautada por seleções de rádios e clipes na MTV — muito provavelmente a experiência de Rina, que nasceu em 1990. Neste trabalho de gigantesco destaque no pop internacional 2020, a cantora traz referências que vão desde o pop de Britney Spears e Christina Aguilera até o nu-metal de bandas como Korn e Evanescence.
Nascida no Japão e radicada na Inglaterra, a artista toca em temas como relacionamentos e o legado de sua família, tratados em faixas dançantes, divertidas, e até mesmo irônicas. SAWAYAMA é um trabalho ousado, que consegue ser ao mesmo tempo nostálgico e incrivelmente atual.
Charli XCX – How I’m Feeling Now
Desde o início da quarentena, enquanto muitos ainda se questionavam o que deveriam fazer de suas vidas, Charli XCX teve a corajosa ideia de lançar um álbum sobre suas emoções durante esse período.
Incialmente, a ideia era de que, mesmo distantes, os fãs poderiam participar de cada etapa da produção. Ou seja, eles davam feedbacks em demos, participavam de lives para discutir as letras das músicas, e até mesmo envolveram-se numa votação no Twitter que determinou a capa do trabalho. Em menos de dois meses, How I’m Feeling Now se tornou um destaque do pop internacional 2020. Chegou em todas as plataformas de streaming, e mostrou o que Charli XCX sabe fazer de melhor: pop chiclete completamente experimental e sem medo de ser o mais ousada possível.
Para resumir, ao lado de A.G. Cook e outros colaboradores, How I’m Feeling Now é um álbum que só poderia ser resultado de um ano tão angustiante quanto 2020, pois ele é um exemplo perfeito de como a indústria musical teve que se adaptar. Um caso interessante é “c2.0”, em que Charli revisita “Click”, faixa lançada por ela em 2019. Enquanto a primeira versão aborda o tema de festejar com os amigos, agora ela regrava a música contando sobre a saudade que possui dos tempos antes da pandemia.
Kesha – High Road
Mesmo não tendo a popularidade dos seus álbuns anteriores, o High Road, quarto álbum de estúdio da Kesha, é um trabalho que merece muito destaque. Em contrapartida ao seu álbum anterior, High Road traz o ressurgimento da cantora a recuperação si mesma, depois de ter enfrentando diversos problemas com seu ex-produtor musical, que a fez estacionar na carreira.
Possuindo um conceito visual bastante rico na fase de High Road, Kesha traz nesse álbum uma experimentação nova que até então não tinha trabalhado, a produção de um pop mais leve e não tão dançante, mas que ainda assim não foge das suas raízes antigas. Um dos únicos pontos fracos do álbum, está na falta do seu alinhamento visual e sonoro, mas High Road é uma ode ao reencontro de Kesha com sua confiança e autonomia artística, após a produção do seu álbum anterior que buscava total libertação.
Kali Uchis – Sin Miedo
Após dois anos do lançamento de Isolation, Kali Uchis retorna com Sin Miedo (del Amor y Otros Demonios) ∞. Ao contrário do trabalho anterior, todas as faixas da artista de ascendência colombiana são cantadas em espanhol em seu segundo álbum de estúdio. Outra diferença está em suas letras: enquanto no trabalho anterior a solidão era um método de sobrevivência, agora Uchis encontra o controle na solidão. O isolamento em sua nova fase é algo emancipatório e encorajador. Resgatando suas raízes sem medo de provocar, Kali entrega para o pop internacional 2020 um álbum totalmente influenciado pela música latina, passando por baladas e reggaeton.
No álbum Sin Miedo… Kali Uchis conta com parcerias bastante diversas de Jowell & Randy, PartyNextDoor e Jhay Cortez. Além deles, a rapper estadunidense Rico Nasty acompanha Kali em “¡aquí yo mando!”, a melhor faixa do álbum. Sedutora e emocionante, as duas conseguem deixar o ouvinte completamente vidrado na energia que as duas possuem juntas.
Grimes – Miss Anthropocene
A princípio, parece que a zona de conforto não é um lugar onde a Grimes se encaixa muito, pelo menos artisticamente falando. Após o sucesso estrondoso do seu álbum anterior, esperava-se que a artista seguiria uma linha semelhante em Miss Anthropocene, mas não. Grimes ressurge com uma estética totalmente dark e sombria no conceito do seu quinto álbum de estúdio, com sonoridades que imergem o ouvinte em um universo infinito e gravitacional, te fazendo levitar entre as diversas ambiências futuristas de cada faixa.
Dessa forma, enxerga-se que muitas dessas sonoridades, talvez, se devam ao foco principal que a artista deseja trazer neste álbum, que é o tema das mudanças climáticas no mundo. Em Miss Anthropocene, Grimes prova ser mais uma vez a dona de seu próprio destino, recusando-se a deixar que quaisquer forças externas a desviem do curso que ela escolheu para si mesma. Como resultado, surge um disco cheio de imaginação e beleza, que também mostra o passo adequado para uma artista que construiu sua reputação como alguém que se recusa a acompanhar o resto do mundo.
Christine and the Queens – La Vita Nuova
Enquanto Chris, de 2018, trazia ritmos mais enérgicos, La Vita Nuova recorre a um pop mais calmo e introspectivo — sem perder a excelência de Christine, nome artístico da francesa Héloïse Letissier. O trabalho (que na verdade é um EP) narra a frustração por um amor que partiu, ao longo de cinco faixas concisas e muito bem amarradas. Alternando entre inglês, francês e italiano, o lançamento veio acompanhado de um curta que demonstra exatamente como cada faixa dialoga entre si, sem ficar preso a uma narrativa visual necessariamente melancólica: às vezes, o melhor caminho para superação é dançar e expor seus sentimentos para o mundo.
Dua Lipa – Future Nostalgia
Antes de mais nada, o Future Nostalgia dá adeus ao status de revelação, trazido com o seu primeiro álbum auto-intitulado, e firma Dua Lipa como um dos maiores destaques do pop da atualidade, e isso tudo somente no seu segundo álbum.
Com ascendência Albanesa, e criada em Londres, Dua Lipa possui desde berço uma dualidade de sentimentos e sensações sobre tudo que lhe cerca. E sem dúvidas é possível enxergar muito disso em Future Nostalgia, pois é um trabalho que se amplia muito além da experiência visual e sonora, trazendo também sofrência e dança, e mergulhando de modo homogêneo em arranjos passados e contemporâneos.
De Olivia Newton-John a Madonna, passando por INXS e até mesmo Lily Allen, o álbum faz seu trajeto no túnel do tempo carregando diversas referências de ritmos, instrumentos e balanços antigos, estacionando no ano de 2020 com muita classe e autenticidade sonora. Por fim, um ponto muito incrível é que, mesmo quando as letras tratam de temas delicados e emotivos da vida de Dua Lipa, o Future Nostalgia jamais abandona sua vibe jubilosa, dançante e extremamente viajante, deixando, sem dúvidas, um marco no pop internacional 2020, e também para a eternidade.
Lady Gaga – Chromatica
Lady Gaga sempre foi conhecida pelo seu pop irreverente e criatividade, o que deu a nova-iorquina diversos títulos desde que sua carreira começou e já é consagrada no mundo pop. Após alguns equívocos em sua carreira provando que é versátil e pode tudo com sua voz, retorna ao pop em um ano que a pista de dança está fechada para os amantes do gênero.
Entretanto, em Chromatica, além do tão esperado retorno ao gênero que abraçou sua singularidade, a cantora entrega ao pop uma volta energética, com colaborações fantásticas (como Ariana Grande, BLACKPINK e Elton John), porém, ainda não é um The Fame ou Born This Way. Mesmo assim, por todo o seu feito e contribuição à indústria fonográfica, Lady Gaga prova que pode se reconectar facilmente com sua poesia interior e entreter ao público mesmo em um ano sem espetáculo.
Jessie Ware – What’s Your Pleasure?
A cantora Jessie Ware pode ser novidade em 2020, mas já tem grandes feitos e acumula fãs desde 2012 e o sucesso de “Running”, música que chegou a ganhar um remix pelo Disclosure e entrou na edição deluxe do álbum “Settle” do duo. Além disso, também fez parte da trilha sonora de 50 Tons de Cinza e já possui 4 álbuns de estúdio, incluindo What’s Your Pleasure?.
Em seu novo álbum, traz um pop sofisticado, não só pela batida eletrônica na medida certa, mas também pelo seu vocal surpreendente e envolvente em todas as canções, o projeto capta a atenção do ouvinte do início ao fim das doze músicas. A atmosfera dos anos 80 em que o pop fez uma imersão, uma das que cometeu menos deslizes, com certeza foi Jessie, além de incluir elementos dos anos 70. A mistura do clássico com a atmosfera de tensão sensual dada pelos vocais desperta a vontade de dançar de forma mais comedida, bebendo bons drinks com nossa melhor roupa. Ideal para aqueles que amam soft pop ou Alpha FM, a cantora tem o toque da Sade com uma roupagem atual.
Taylor Swift – folklore e evermore
Taylor Swift não feliz em soltar um álbum, lançou dois em 2020. Apesar dos projetos não serem considerados pop, a relevância da cantora no gênero não pode ser ignorada. Sua legião de fãs foram surpreendidos de forma positiva com a entrada do folk em folklore e evermore. Com o primeiro lançado em julho, conectou-se aos fãs de forma diferente e conseguiu conversar através de sua arte com as angústias humanas que todos estamos sentindo. O segundo, veio em seu aniversário, como um presente aos seus fãs.
Inegavelmente, folklore e evermore são geniais pela astúcia e inteligência da Taylor ao compreender que o mundo já tinha seus lançamentos pop. Contudo, em um ano tão estranho e diferente, as pessoas precisavam de um amparo emocional que muitas vezes, somente a arte e, neste caso, a música, conseguem nos dar de forma plena.
The Weeknd – After Hours
Por fim, trazemos o After Hours, que é o quarto álbum de estúdio do The Weeknd, e um projeto sem colaborações em sua versão original, mas que na deluxe apresenta faixas remix com outros artistas. Sem dúvida este pop mergulhado nos anos 80 e com influência do R&B, conquistou até mesmo quem não era fã. Para muitos críticos, foi o melhor trabalho de Abel até agora, com diversas referências visuais e estéticas bem escolhidas, referências a filmes como Fear and Loathing in Las Vegas e Joker, entre outros. Aliás, uma prova da grandiosidade do álbum foi a indignação do público ao saber que o trabalho primoroso e impecável de The Weeknd não foi indicado ao Grammy.
Ainda que não tenha conseguido a indicação, o cantor será a atração do show do intervalo do Super Bowl no dia 7 de fevereiro de 2021. Além disso, é o quarto álbum do artista que chega ao primeiro lugar da Billboard e foi o terceiro álbum mais vendido (em vendas puras) dos Estados Unidos em 2020, perdendo apenas para folklore e Map of the Soul: 7.
Texto por: Leonardo Neto, Júlia Baruki, Bruna Antenore, Luana Harumi, Ludmilla Krieger e Rayane Moreira.