Texto por Gêra Lobo e João “Janjo” Pierro
O rap nacional, muitas vezes subestimado e subjugado no cenário, nos entregou materiais de muita qualidade e, em muitos casos, necessários em 2020, ainda mais neste ano marcado por uma crescente luta racial que sempre foi presente no mundo e, principalmente, no nosso país, mas que parece ainda estar longe de acabar. Mesmo diante de mais de 300 dias caóticos, a cultura presenteou os fãs do gênero com grandes faixas e trabalhos primorosos, e nós do ROCKNBOLD separamos os 10 melhores para vocês. Se liga na lista!!!
BK’ – O Líder Em Movimento
Iniciamos nossa lista com um disco que dispensa comentários. O Líder Em Movimento nos apresenta um BK’ ainda mais irritado com todo o racismo estrutural em território brasileiro, evidenciando os absurdos diários que seu povo sofre enquanto mostra como aplicar e transmitir de forma perfeita a mensagem por meio de faixas muito bem produzidas. Neste terceiro disco de estúdio, o rapper carioca conseguiu seguir a cartilha irretocável de um disco de rap que atinge de forma certeira quem escuta, independente de qualquer identidade, idade, número ou grau. BK’ é um dos grandes do cenário nacional sem sombra de dúvidas, e este trabalho serviu para confirmar isto.
Leia +: BK’ está essencialmente primoroso em “O Líder Em Movimento”
Faixas destaque: “Movimento”, “Megazord” e “Universo”
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Bivolt – Bivolt
Batizado com seu próprio nome, vemos as duas faces de Bivolt ao longo do álbum que, para muitos, é o melhor do rap nacional em 2020. Conhecida por uma habilidade vocal e melódica incríveis, a rapper apresenta em seu primeiro disco de estúdio composições versáteis e que envolvem o ouvinte com sua variação de ritmos. Outro ponto muito trabalhado no álbum é a estética; com clipes marcantes e interativos, Bivolt construiu um lindo e premiado trabalho. Além disso, a MC foi indicada a 21ª edição do Grammy Latino pelo clipe de ”Cubana”, que faz parte do álbum lançado no início de março.
Faixas destaque: “Cubana”, “Murda Murda” e “⚡ (Bivolt)”
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Fleezus, CESRV, FEBEM – BRIME!
Enquanto a maior parte do cenário foca em importar referências americanas – como o trap de Atlanta -, os rappers paulistanos Fleezus, Febem e o produtor CESRV foram um pouco mais longe, mais especificamente para Londres, berço do grime. BRIME! é a coroação de algo que vem sendo feito no underground do rap, mas agora com a cara do Brasil, indo da capa do projeto, até a escolha de ritmos que vemos nos beats de cada faixa, todas assinadas por CESRV, que entrega produções confortáveis para serem exploradas pelos MCs que completam o projeto. Este trabalho é um dos projetos mais promissores do ano, abrindo novos caminhos para o grime feito em terras brasileiras, que são fomentados por canais como o ‘Brasil Grime Show’.
Faixas destaques: “Yin Yang”, “Fala Memo” e “Terceiro Mundo”
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Marcelo D2 – Assim Tocam os MEUS TAMBORES
Uma aula ao vivo de como produzir um álbum-filme completo; essa é a melhor definição que Assim Tocam os MEUS TAMBORES, de Marcelo D2, poderia ter. A idealização e produção do álbum foi inteira transmitida via Twitch, pelo canal do rapper na plataforma. Assim como Amar É Para os Fortes, álbum anterior de D2 que também é um filme, o sucessor possui um formato parecido, mas por consequência da pandemia da COVID-19 foi todo feito em plano-sequência dentro da casa do artista, com participações de sua esposa e seu filho, o rapper Sain. Já o álbum é uma grande mensagem de amor e empatia para os tempos em que vivemos. Com participações de artistas como BK’, Baco Exu do Blues, Rodrigo Ogi, Djonga, Don L e mais, o grandioso projeto de D2 é um dos mais bonitos e necessários nesse ano caótico que vivemos.
Faixas destaque: “ROMPEU O COURO.”, “MALUNGOFORTE.” e “PELO QUE EU ACREDITO”
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Hot e Oreia – Crianças Selvagens
Segundo álbum de estúdio da dupla mineira os coloca ainda mais nos holofotes do rap nacional, com faixas que vão da poesia política ao sexo em uma criativa colagem de diversos samples, ritmos e temas. Ao longo das dez faixas, o trabalho traz colaborações de grandes nomes da música brasileira, como Black Alien e Tropkillaz, além de samples de Caetano Veloso e Nelson Ned. A direção do álbum ficou por conta de Daniel Ganjaman. O álbum, que ainda está sendo divulgado, ganhou clipes para as faixas “Papaia”, “Domingo, “Presença” e “Saiu o Sol”, todos com a característica marcante e debochada da dupla de Belo Horizonte.
Faixas destaque: “Papaia”, “Presença” e “Domingo”
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Matuê – Máquina do Tempo
Após seguidos singles, Matuê não poderia ter acertado mais no seu disco de estreia, o ótimo Máquina do Tempo. Mesmo com letras rasas que focam bastante em drogas, sexo e dinheiro, o trabalho se destaca pelos seus excelentes samples e beats de trap, além de trazer realmente uma atmosfera espacial e astronômica, como uma viagem no tempo. Além disso, é importante destacar como o rapper cearense conseguiu mesclar bem o trap, rap e vertentes do pop, tornando seu álbum comercialmente acessível para diversos tipos de público. Apesar de não passar nenhuma grande mensagem, o disco é uma experiência muito divertida para uma primeira viagem pelo tempo.
Faixas destaque: “777-666”, “É Sal” e “Máquina do Tempo”
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Bin – Para todas as mulheres que já rimei
Com “Marília Mendonça”, um dos maiores hits do ano não só no rap, mas da música brasileira em geral, o rapper carioca Bin emplacou o seu primeiro álbum Para Todas As Mulheres Que Já Rimei. Carregado de love songs, as faixas podem ser consideradas “cartas” que Bin direciona em forma de canções, onde cada uma delas é dedicada para uma mulher que marcou sua vida. Mesmo o projeto trazendo um único tema, o jovem de Belford Roxo mostra muita diversidade em seu flow, letras e melodias. A produção e os beats de Ajaxx, Ariel, Daniel Hunter, Kizzy, Mãolee, Jess Beats e Dallass dão o toque perfeito para o tom do disco, que já está direcionando a carreira do jovem MC ao mainstream.
Faixas destaque: “Marília Mendonça”, “Quase uma semana” e “Culpa do Álcool”
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Rashid – Tão Real
Com o seu “conceito de rua”, o rapper da zona norte de São Paulo nos trouxe em janeiro um disco completo, que foi separado em três “temporadas”, sendo lançado desde setembro de 2019 em blocos de seis faixas, cada qual com seu respectivo single. Rashid e Michel aqui são dois lados de uma mesma moeda, apresentando com sinceridade ao longo de todo o projeto versos de forma sempre intimista, tocando em temas políticos e raciais com excelência. Com participações de Emicida, Duda Beat, Rincon Sapiência, Tuyo e beats assinados por Skeeter, NAVE Beatz, Dogz e Grou, todas as “temporadas” de Tão Real são bem executadas e no último episódio, “Eu”, Rashid sai de cena para Michel falar sobre si.
Faixas destaque: “Eu”, “SSNS” e “V-I-S-Ã-O”
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Doncesão – EGO
Quase 10 anos depois de Bem Vindo ao Circo, Doncesão volta a lançar um álbum. Ego passa a mensagem de amadurecimento do já experiente MC de São Paulo, visível ao momento de vida em que se encontra por causa do nascimento de seu filho, Don. A ideia do projeto é negar um “eu” antigo para trazer um novo. O rapper, que ficou conhecido pelo grande público com a ascensão meteórica do Damassaclan, mostra que, hoje, Doncesão é, além de rapper, empresário e idealizador da poderosa “Ceia Ent”, selo que conta com diversos nomes de expressão do rap nacional. Ego é um projeto sincero, onde o rapper apresenta um ótimo material e uma evolução como pessoa e artista.
Faixas destaque: “DON”, “EGO (Eu Não Preciso)” e “Homem de Lata”
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Djonga – Histórias da Minha Área
Mais um ano se passando e em mais um 13 de março, Djonga nos presenteou com um álbum, seu quarto de estúdio. Com uma das capas mais fortes e bem feitas no ano, rapper mineiro mostra pelo quarto ano consecutivo o motivo de ser considerado por muitos o grande nome do Rap Nacional na atualidade. Em Histórias da Minha Área, o artista nascido na Favela do Índio, zona leste de Belo Horizonte, estabelece o local em que vive até hoje como o tema central e narrativo do álbum. Ao lado de Djonga desde Heresia (2017), Coyote Beatz assina a produção do quarto álbum do rapper.
Faixas destaque: “Oto Patamá”, “Gelo” e “O Cara de Óculos”
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