Humanity’s Last Breath intimida na sonoridade e agrada na criatividade em seu mais novo álbum

Em Välde, quarto disco de estúdio de Humanity’s Last Breath, os suecos surpreendem pela variedade musical enquanto mantém a qualidade pela qual são conhecidos.

Desde o surgimento do deathcore, o gênero viveu uma montanha-russa de popularidade em um curto espaço de tempo. Explodiu nos anos 2000 e começou a cair por volta de 2010, até ser considerado morto pelo mainstream. Hoje, no entanto, o segmento vive esse período que, na distância dos holofotes, fez com que o mesmo se fundisse com diversos outros subgêneros criando várias ramificações musicais, fazendo com que viva um dos períodos de criatividade mais diverso.

O que nos traz ao quarteto sueco, Humanity’s Last Breath. Inicialmente, integraram a onda de downtempo com o diferencial da complexidade rítmica em suas composições, remetendo aos conterrâneos do Meshuggah. Mas em seu terceiro álbum, Abyssal, influências de industrial, black metal e elementos sinfônicos começaram a aparecer e aumentaram a antecipação do que viria a seguir.

Com seu quarto disco de estúdio, Välde, lançado no dia 12 de fevereiro, o grupo expande tudo que inseriu e utilizou no disco anterior, solidificando a sonoridade no melhor disco de  sua discografia.

Antes de mais nada, esse é um disco frio e inóspito, que busca sempre manter uma atmosfera melancólica e intimidadora, sendo notável antes mesmo da experiência musical, já que a arte de Mariusz Lewandowski, que retrata um monolito preto gigante que absorve almas ilustra muito bem essa temática, que por sua vez, serve perfeitamente à sonoridade e letras.

Humanity's Last Breath , álbum "Välde".
Imagem: Capa do Álbum Välde

Quando o disco começa, encontra-se uma grata surpresa na intro “Dödsdands”, que reúne elementos presentes no disco e define o tom do que está por vir. Destaque também para o interlúdio, “Väldet”, que desacelera o ritmo e, para gerar tensão, apresenta o som de uma sirene que poderia ser encontrada em um jogo da saga Silent Hill. Ponto positivo comparado ao lançamento anterior, onde um dos problemas eram os interlúdios que não agregavam muito à obra.

Em dois dos singles lançados, “Vittring” e “Earthless”, percebe-se como esse disco eleva o lado atmosférico da banda, com grande auxílio dos elementos sinfônicos em outras faixas, mas nessas, a imersão fica por conta das melodias inquietantes e dissonantes da percussão e guitarra, respectivamente, criando a sensação de que algo nos persegue. Tudo isso, enquanto os ritmos e breakdowns pelos quais são conhecidos fazem com que que o ouvinte sinta-se desorientado e que sempre está fora de tempo ao tentar acompanhar com a cabeça.

Notável também é o quão progressivo Välde é, já que na construção das faixas, a subversão da expectativa é constante. Seja em “Descent”, que antes dos dois minutos de duração transita incansavelmente por gêneros até arremessar o ouvinte em um trecho com um coral macabro, ou em “Futility” que alterna constantemente entre um ataque de black metal e os breakdowns do deathcore. Já na conclusão de Tide, o clima soturno é ampliado com o mergulho da banda no doom metal.

Nas faixas mais rápidas e agressivas, como “Hadean”, “Glutton” e “Dehumanize”, onde o grupo se encontra a todo vapor, a sensação é que os blast beats, por mais improvável que pareça, são os “descansos” que servem de transição para cada próximo breakdown. O álbum também não abandona o senso melódico e os músicos exploram esses trechos mais no épico encerramento de “Spectre” e nos refrões de “Sirens” sem permitir que destoem ou pareçam forçados nas faixas, de forma que ampliem ainda mais a atmosfera proposta.

Um dos maiores destaques fica para a produção, feita pelo guitarrista e compositor, Buster Odeholm, que destaca cada instrumento e nuance criando uma sonoridade mais encorpada e rica, fazendo com que a música se assemelhe ao monolito apresentado na capa, como algo grandioso.

Välde consegue superar todas as expectativas criadas pelos singles lançados desde 2020. É um disco de Blackened Deathcore que não fica na zona de conforto, produzindo em cada faixa uma nova possibilidade e variedade que faz novos detalhes serem encontrados a cada vez que é tocado. Ele consegue ser melódico, sinfônico, progressivo, pesado, atmosférico e intimidador sabendo distribuir suas influências sem abandonar o que os faz diferentes de seus contemporâneos.

10/10

Ouça “Välde”, de Humanity’s Last Breath!

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