O punk brutal, dolorido e sentimentalista do IDLES

A banda IDLES desembarca no Brasil para o festival Lollapalooza e um show para alguns fãs no Z Largo da Batata. Para quem ainda não ouviu, venha conhecer!

A banda IDLES, representante do punk rock britânico, se faz cada vez mais necessária por facilitar debates sobre temas delicados de maneira feroz mas descontraída, enquanto os fãs gritam e se debatem na plateia.

Idles ou IDLES é um grupo formado em Bristol, na Inglaterra, por Joe Talbot e Adam Devonshire em 2011. Entretanto, somente em 2014 a formação foi concluída, com a entrada de Jon Beavis na bateria e Mark Bowen e Lee Kiernan nas guitarras.
Após o lançamento de dois EPs que não obtiveram relevância na cena inicialmente e diversos problemas pessoais que cada membro da banda enfrentava, o quinteto apresentou-se de forma sólida para o mundo com Brutalism.

“Brutalism” (2017)

O álbum foi lançado em julho de 2017 e possui 13 faixas. Antes de tudo, ao longo do processo de escrita, a mãe do vocalista, Talbot, faleceu. A partir dessa experiência dolorida, a transformação e modificação de seu comportamento em arte tornou-se mais nítido. O buzz gerado em torno do projeto era originado, principalmente, por trazer comentários relevantes sobre a vida atual. O sarcasmo que flui nas composições em conjunto com a raiva contida (ok, nem tanto assim) que alguns não desejam entender, transforma tudo em algo ainda mais bruto, colocando a banda na linha de frente da própria batalha contra o mundo e a sociedade.

A música Motheré a mais conhecida do trabalho. A crítica principal é sobre a jornada de trabalho, o medo dos ricos na ascensão das classes e a diferença entre os temores dos gêneros, onde o homem teme ser ridicularizado enquanto as mulheres continuam sofrendo com o feminicídio. Outra que merece destaque pelo tema abordado é White Privilege, onde critica comportamentos dos privilegiados e o diferente estilo de vida entre as muito distintas classes sociais. Além disso, mesmo com as adversidades, a faixa nos convida a dançar sem parar. Um dos maiores acertos do grupo em seu álbum de estreia.

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(Foto: Divulgação/Reprodução)

“Joy As An Act Of Resistance” (2018)

O segundo trabalho de estúdio, Joy as an act of Resistance, veio em agosto de 2018 em mais momentos turbulentos na vida de Talbot. Ao longo do desenvolvimento do projeto, a filha do vocalista, Agatha, faleceu durante o nascimento. Ele e sua companheira seguem juntos, superando individual e conjuntamente a dor da perda. O álbum segue com o instrumental frenético, cheio de energia, visceral e ainda mais honesto. A vulnerabilidade apresentada incentiva as pessoas mostrarem seu lado sensível, numa época em que as máscaras e a perfeição buscam prevalecer, principalmente nas redes sociais.

Os destaques são para Danny Nedelko, que transforma debates políticos em pessoas reais, famosas ou não. “June” é a música escrita para a filha do vocalista, com letra dolorosa e instrumental – quase – perturbador. “Samaritans” fala sobre masculinidade tóxica por quem entende: homens. Faixa fala sobre amor, Brexit e classes sociais, tornando-se relevante no cenário punk trazendo a tona o que precisamos prestar atenção de verdade: a complexidade das relações humanas e como criar um diálogo saudável para os diversos assuntos que julgamos necessários atualmente.

Videoclipe de “Danny Nedelko”, do álbum “Joy as an Act Of Resistance”.

IDLES faz-se necessário por conter letras com mensagens pesadas, com uma entrega ruidosa ao ouvinte inicialmente, mas há muito mais do que a primeira impressão passa. Além de crerem no que cantam, precisamos de homens falando sobre suas frustrações de forma honesta também, para conseguir entender um todo. A mídia mostra sempre homens bem-sucedidos e a banda celebra os ordinários e normais. Ao passo que apresentam suas vulnerabilidades, expõem que está tudo bem ser mediano e você deve ser livre para expressar isso, não somente simular o que não é. Assim sendo, a conexão com o público masculino vem, majoritariamente, deste ponto.

Por outro lado, a temática da saúde mental é outro tópico importante, principalmente ao longo de suas carreiras, sempre presente também por ser algo que cada membro, individualmente, já trabalhou para melhorar. Reconhecidos também por doarem para causas que ajudam na saúde mental de outras pessoas, como quando tentaram salvar um centro de reabilitação para homens na cidade em que a banda foi fundada, o Chandos House, em 2018.

Postagem feita na página do Facebook da banda sobre a Chandos House.

A resposta do público ao conjunto de variáveis e constantes que formam a banda é positiva, não somente pelos homens que cativam, mas ao público feminino crescente nos shows. Inicialmente, pode-se aparentar que se está cantando sobre assuntos que o ouvinte não compreende a relevância, mas a conversa com a fã base consegue transcender o espaço de show ou banda-fã.

A fotógrafa do grupo, Lindsey, percebeu alguns rostos que se repetiam em várias apresentações, adicionando eles no Facebook e os contatando para sugerir um encontro prévio. Ela teve a sensibilidade de perceber que, em pouco tempo, os fãs que conhecia se abriam sobre suas vidas e teve a ideia de criar um grupo no Facebook. A AF Gang (abreviação de “as fuck”) começou com poucos membros. Nos primórdios, trocavam fotos dos shows, mas logo as pessoas começaram a se abrir e relatar sobre como o IDLES mostrou outra perspectiva. Nos dias atuais, os membros postam sobre saúde mental, desabafam e, claro, compartilham outras bandas e artistas.

IDLES: Banda apresenta “Mother” no Le Bataclan.

A banda finalmente desembarcará no Brasil no próximo mês para o LOLLAPALOOZA e será uma das atrações do primeiro dia do festival (03 de abril, sexta-feira). Para quem não ouviu, ainda dá tempo de se apaixonar pela raiva e alegria que eles transmitem durante o espetáculo. Uma apresentação barulhenta, de quem venceu a mesmice e voltou a trazer o gênero para o mainstream. Em tempo de polaridade política, o IDLES se lembra que é possível rir, cantar e se divertir mesmo com os problemas desses tempos turbulentos. O punk rock com toda a força que você não esperava, uma tempestade causada pelo alvoroço de instrumentos e palavras que irá balançar o festival.

Quebrando barreiras em decibéis, a música deles chamará atenção de quem estiver distraído naquela fatídica primeira sexta-feira de abril. Para os fãs, prato cheio para quem irá vê-los pela primeira vez: o momento perfeito de, mesmo numa sociedade extremamente polarizada, cantar e dançar a plenos pulmões que através da Arte, enfim, também é possível ser melhor.

Os ingleses farão uma apresentação para convidados na quinta-feira que antecede o Lolla, no dia 2. Alguns ingressos serão sorteados para fãs árduos do grupo.

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LOLLAPALOOZA BRASIL – DIAS 03, 04 E 05 DE ABRIL @ AUTÓDROMO DE INTERLAGOS, SÃO PAULO

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