Banda liderada por Eddie Vedder retorna pós sete anos com um disco sólido e temas necessários
Poucas bandas no mundo conseguiram manter uma regularidade tão grande em 30 anos de carreira como o Pearl Jam. A banda liderada pelo genial Eddie Vedder nunca foi de deixar seus fãs na mão em termos de novas músicas, sempre lançando discos numa regularidade interessante. Porém, uma pausa de sete anos foi necessária para que a banda ganhasse um maior gás e criatividade para trabalhar no seu próximo disco.
Bom, após o Lightning Bolt e uma fase onde a banda focou apenas em fazer algumas turnês, finalmente saiu o 11º disco da banda de Seattle: o Gigaton. Antes de tudo, é bom entender a importância desse disco nos tempos atuais, ainda mais pelo seu foco em política, em especial o tema do meio ambiente, que fica até nítido na capa do disco. Mas além do simbolismo do próprio, que é grande em dias atuais pelos problemas do COVID-19, tendo em vista até que Seattle é uma das cidades dos EUA mais afetadas pelo vírus, musicalmente é um trabalho muito interessante, por ter de tudo e mais um pouco, com aqueles riffs pesados que o Pearl Jam sempre entregou, mas músicas até “experimentais” e outras uma baladinha, com direito até a momentos acústicos.
Desde é importante falar que o Gigaton pode alegrar muitos e outros não, mas demonstrou muito como aquele “respiro” de sete anos foi importantíssimo para a capacidade criativa de todos da banda. Por mais que tenham faixas bem parecidas no final do disco, é indiscutível que o Pearl Jam se aventurou em vertentes diversas para criar músicas diferentes e empolgantes.
Antes de entrar na análise de faixa por faixa é importante salientar: as primeiras quatro faixas do disco não poderiam ser melhores. Logo de cara, o Pearl Jam mostra que não está pra brincadeira com a potente “Who Ever Said”, um cartão de visitas perfeito, com uma energia gigantesca para o que está por vir. E essa energia diminui? Não, nem um pouco, e a faixa seguinte, “Superblood Wolfmoon”, segundo single lançado, mantém a pegada com um riff dançante e velocidade para não deixar ninguém parado.
Logo depois chega, pra mim, a sequência das duas melhores músicas do disco. Terceira faixa do disco, “Dance of the Clairvoyants“, primeiro single lançado, não agradou muita gente por sua pegada mais new-wave e ainda mais alternativa que de costume da banda, mas é impossível não se pegar dançando com a linha de baixo espetacular de Jeff Ament e a bateria marcante de Matt Cameron, que te mostram o caminho de uma experiência mágica, com a voz de Vedder te levando a lugares diferentes e especiais, da forma que só ele sabe.
Mas o auge do disco não para por aí. “Quick Escape” é a típica canção que agrada gregos e troianos, sendo uma música “pesada” em todos os sentidos, com um riff marcante e uma letra pessimista sobre os caminhos que estamos tomando, cutucando demais Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, tentando achar uma forma de “escapatória rápida”. As pontes da música são excelentes, contando com um refrão que fica na sua cabeça demais. Música forte demais, com direito a um baita solo.
Finalmente chegamos na primeira baladinha do disco, e logo duas em seguida. A primeira é “Alright”, que parece entrar numa viagem bem obscura e lenta, mas com uma mensagem de que “está tudo bem”, que é necessário nos momentos atuais. Porém, essa seria uma boa hora pra animar um pouco, mas a banda deu uma leve pecada na estrutura por colocar “Seven O’Clock” logo depois, que é uma boa música, mas são cinco minutos que esfriam demais a vibe do disco.
Depois delas, mais “porrada” de maneiras seguidas com “Never Destination”, uma música que traz muito do rock clássico e sua vibe poderosa com vocal forte e riffs marcantes, e “Take The Long Way”, um exemplo perfeito do hard rock clássico, que nos remete muito aos tempos áureos do Pearl Jam. Pros mais antigos, é um prato cheio de muita energia.
Entramos, então, na sequência mais “bonita” do disco. Primeiro com “Buckle Up”, um caminho leve e tranquilo demais, que te prepara para o senso de emoção que “Comes Then Goes” representa, claramente uma letra feita em homenagem a Chris Cornell, grande amigo da banda e que nos deixou em 2017. Pra fechar, um pouco do trabalho solo de Eddie Vedder em “Retrograde” e “Rivercross”, que falam das mudanças climáticas e isso afeta nos momentos finais do disco. Mesmo assim, acho que duas das três finais poderiam ser retiradas e entrar numa espécie de deluxe edition, pois alargou demais o disco.
A importância e representatividade do Pearl Jam no mundo do rock segue sendo gigantesca e suas preocupações acerca do meio ambiente e política com o Gigaton mostram bem isso. Letras necessárias, pesadas e importantes, além da banda não perder seus riffs poderosos, que marcaram tanto e fizeram com que a banda chegasse onde chegou. Porém, muito além disso, o 11º disco do grupo de Seattle também experimenta e agrada, mas sem medo de errar também.
Na opinião de quem escreve, é um álbum importantíssimo, muito bem produzido por Josh Evans, mas não é um dos melhores discos da banda, mesmo que apareça em uma boa posição no ranking de discos da banda. Provável que seja o trabalho mais sólido neste século, mas tem seus altos e baixos, o que é normal. De qualquer jeito, o Pearl Jam mostrou que segue tendo muitas coisas interessantes guardadas.
7.75/10.
Músicas destaques do álbum: Dance of the Clairvoyants, Quick Escape, Superblood Wolfmoon, Who Ever Said e Never Destination.
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