Asking Alexandria e o distanciamento das raízes

“Like A House On Fire”, novo álbum do Asking Alexandria, é uma tentativa frustrada e sem criatividade de se adentrar ao mainstream

O caminho do sucesso é nebuloso, tortuoso e incerto. Muitas bandas que encaram o desafio de adentrar certo estilo o fazem com a convicção como combustível para o sonho de vingar no cenário musical mundial, inclusive o Asking Alexandria. Isso acontece em todas as vertentes e subgêneros que conhecemos, do rock ao pop, do rap a MPB. São nesses momentos que entram os agentes facilitadores, ou apenas um: o mainstream. Dessa forma, bandas e artistas encontram uma forma “fácil” de venderem seu material, alcançando o público-alvo de sua música – além das beiradas que são envolvidas com o trabalho desse agente facilitador, como rádio, televisão, portais populares, etc.

Lembrando que isso não é necessariamente um demérito, inúmeras bandas já tiveram seu momento de dificuldade criativa e optaram por utilizar desse agente para continuar se mantendo em evidencia. O único problema é que nem sempre o tiro sai na direção correta do alvo. Um exemplo forte e impactante foi o último álbum dos britânicos do Bring Me The Horizon. Amo (2019), rendeu críticas das mais diversas, alcances inimagináveis e números espantosos, mostrando que toda mudança, se bem executada, pode sim causar bons impactos na carreira de muita gente por aí. Não é surpresa dizer que os caras saíram de um deathcore para um alternativo em questão de 13 faixas (sem contar o EP de nome extremamente extenso, lançado após o álbum em questão, que deixou os fãs de cabelo em pé), mostrando poder de evolução benéfica, mesmo afastando os fãs mais “tr00zões” que a banda tinha.

E é nesse sentido de alçar voos pelo mainstream, fincar o pé e solidificar, que entraremos no assunto em questão dessa matéria: Asking Alexandria e seu último álbum Like A House On Fire. Para isso, farei uma breve passagem desde o álbum que lançou os caras nos festivais, o queridinho Stand Up And Scream, até esse último, que para muitos, é uma bela decepção.

Imagem: Capa do álbum “Stand Up And Scream” / Divulgação

Novo Asking Alexandria e Stand Up And Scream (2009)

O AA como conhecemos não era bem assim até o lançamento de Stand Up And Scream, mas foi com essa formação que os caras despontaram para o universo do metalcore moderno, com o som ganhando apelido de “trancecore”, estilo adotado por outras bandas da mesma época (como por exemplo Attack! Attack!). O uso dos sintetizadores, mesclados com as guitarras pesadas e os pedais duplos, chamou atenção da crítica e, consequentemente, do público que jogou os caras pro #5 da Billboard’s Top Heatseekers. Para o lançamento e divulgação, a banda optou por turnês, além de videoclipes. Franjas, calças apertadas, música eletrônica misturada com o peso do metalcore formam este trabalho.

Reckless and Relentless (2011)

Dois anos depois, e com muito trabalho para apresentar, os britânico lançam seu segundo full-lenght, intitulado “Reckless and Relentless”: muito mais maduro, coeso, trabalhado no gênero que propunham, e claro, repaginado. Os antes “emos” agora mostram um lado pseudo-rockstar, com letras trabalhadas no cotidiano e com muito menos uso de sintetizadores nas faixas. Estariam, podemos dizer, caminhando para um reconhecimento ainda maior de trabalho que no primeiro disco. Fato interessante é que alguns fãs sentiram falta da parte eletrônica presente nas composições do trabalho anterior, ao mesmo tempo que a gama de público aumentou justamente por existir mais riffs pesados do que linhas de synths nas músicas. Asking Alexandria ganhando o mundo com canções como “Someone, Somewhere”.

From Death To Destiny (2013)

A partir deste momento, entramos em uma fase que podemos chamar de: Asking Alexandria descobriu o poder dos refrões chiclete. Nessa mesma pegada, entenderam também que love songs ao estilo “dramático” também puxavam uma pequena parcela a mais de views que somente riffs pesados e breakdowns infinitos. Um bom exemplo disso é a música “Moving On”, típica faixa de crise existencial (sem deixar passar a já citada baladinha “Someone, Somewhere”, que provavelmente embalou vários relacionamentos – ou o término deles, claro). Foi nesse mesmo período que Danny Worsnop, vocalista da banda, engrenou em seu projeto solo, além de trazer de volta a vida uma banda paralela de country rock com nome de We Are Harlot. É, foi aí que as coisas começaram a mudar um pouco no cenário da discografia do grupo.

Saída de Danny Worsnop e “The Black” (2016)
Asking Alexandria: com Blessthefall em SP e RJ – Portal Metal ...
(Foto: Asking Alexandria com Denis Shaforostov – Divulgação)

Em janeiro de 2015, o frontman divulga em seu twitter que estava deixando a banda para se dedicar exclusivamente aos seus projetos paralelos, deixando os fãs atônitos com o futuro do Asking Alexandria. Em contrapartida, o guitarrista Ben Bruce publicou uma mensagem em seu Facebook, dizendo que a banda continuaria com um novo vocalista, realizaria shows e lançaria um novo disco. Nesse momento foi anunciado Denis Shaforostov (ex Down & Dirty), como novo dono dos microfones e, em conjunto, a banda lançou o single “I Won’t Give In”, que estaria presente no novo álbum, intitulado The Black.

Em março de 2016 o trabalho é lançado trazendo composições promissoras e o uso do synth é retomado, mesmo que disfarçadamente. Não da pra negar que uma nova identidade foi criada com a entrada de Shaforostov, os berros ficaram mais consistentes, a parte criativa foi ativada novamente, mas, como nem tudo na vida são flores, começaram os problemas. Após a ótima recepção do álbum pela mídia/fãs, em outubro do mesmo ano, Ben Bruce, mais uma vez por meio de suas redes sociais, divulga a volta de Danny Worsnop ao seu antigo posto, após Shaforostov dar um chá de sumiço na Ucrânia, e a banda resolver recrutar o ex-membro por estarem prestes a entrar em turnê. Teríamos o velho Asking Alexandria de volta?

Self-titled e o vislumbre do mainstream (2017)
Imagem: Capa do álbum “Self-titled” / Divulgação

Com o frontman de volta, a banda trabalhou no seu próximo álbum, dando um adeus definitivo ao ligeirinho Denis. Sendo assim, o AA traria ao mundo sua primeira tentativa de adentrar o, lembra, agente facilitador? Sim, o álbum homônimo de 2017 marcaria o retorno de Worsnop a banda, que infelizmente trouxe com ele algo que não foi possível deixar para trás com seus projetos paralelos. Dessa maneira, o novo álbum mostraria um Asking Alexandria mais calmo, reto e entediante, visto a qualidade técnica e criativa dos três primeiros álbuns. Mas por que isso? Simples: views, alcance e assim, possibilidades antes difíceis por conta da pegada do som. Dessa forma, os caras começaram a tocar mais em rádios e programas de televisão, fruto de um trabalho de marketing e imagem para que fosse vendido mais facilmente, abandonando de vez as raízes presentes no “Stand Up And Scream”.

Like A House On Fire (2020)

Vocês devem estar se perguntando o porque de uma linha cronológica até aqui, certo? Pois então respondemos: foi simplesmente para mostrar o retrocesso da banda em relação a todos os trabalhos já lançados. Mais uma vez, lembram do agente facilitador? Bom, posso parecer chato quanto a isso (sim, sou totalmente contra mesmo sendo o ganha pão dos caras, mas existem bandas de renome que, sem sair de seus estilos, e sem “vender a alma”, continuam nos top 10 de muitos ranks de seus gêneros), mas a forma como o Asking Alexandria decaiu em relação ao trabalho que lançou os caras, foi absurdamente assustadora.

Claro, não é toda a fanbase que acredita nisso, mas uma boa parcela compartilha desse sentimento/opinião, como é o caso do Historiador Leonardo Stefaniak, que também notou essa decaída. “Acredito que o amadurecimento da banda em alguns aspectos criativos e líricos, com letras mais maduras e elaboradas, e a mudança dos instrumentos num todo para algo mais radiofônico, mas sem perder a essência por completo do que já foram um dia no ‘Stand Up and Scream”, comenta.

Para não ser tão pessimista, dentro de Like A House On Fire existem algumas faixas boas e outra especialmente que chama a atenção por uma súbita tentativa de personalidade: “The Violence”. Dessa maneira e sem arrependimentos, deixo meu 4/10 pra esse novo álbum, não zerando pelo fato da produção e da coragem em se vender, mostrando facilmente o quanto os caras se distanciaram do metal no desejo de lucrar (Régis Tadeu estaria orgulhoso de mim, porém, eu não por deixá-lo orgulhoso).

E aí, você é fã de Asking Alexandria? Concorda com o que foi dito sobre o novo álbum? Não? Deixa a gente saber, vamos ver se a parcela aumenta. Vou deixar o novo trampo aqui embaixo pra vocês. Abraço!

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