A mudança independente e moderna do Hundredth

Do hardcore melódico ao indie, norte-americanos sempre experimentaram diferentes sonoridades; “Iridescent”, novo EP, foi lançado de forma independente e se aproxima de influências modernas do alternativo
Do hardcore melódico ao indie, norte-americanos sempre experimentaram diferentes sonoridades; “Iridescent”, novo EP, foi lançado de forma independente e se aproxima de influências modernas do alternativo

Quando os ventos de mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento”. Parafraseando Érico Veríssimo, entramos, mais uma vez, nesse lance interminável e característico do mundo da música: a troca de abordagem, ou seja, de estilo dentro de grupos e bandas. Atualmente, e repetidamente, o exemplo mais notório e “gritante”, foi o caso dos britânicos do Bring Me The Horizon, trazendo o ápice de sua mudança estilística com o último lançamento, Amo, liberado em 2019 pela Sony Music Entertainment. Entretanto, esse não é o único exemplo de mudança de abordagem que temos dentro do mundo da música pesada: o Hundredth também está aí para nos provar isso.

Podemos citar os suecos do In Flames, que começaram sua jornada abraçando o death metal melódico como estilo, e hoje, fazem um som mais flertado com o alternativo, agradando alguns, mas, claro, desagradando aqueles fãs da velha guarda. E um dos exemplos mais fortes e discutidos entre as décadas, foi a mudança abrupta de postura e sonoridade exercidas pelo Metallica, banda originalmente lançada no cenário de trash metal que vinha ganhando forças, após muitas reviravoltas dentro do estúdio, perderam a mão naquilo que os trouxe para as principais capas de revistas e listas musicais do mundo.

Mas aí entra a questão: qual a intenção ao se mudar de sonoridade, já que existe um nome e uma aceitação por trás de tudo que foi feito até o momento em questão? Visão mercadológica? Cansaço e saturação com o que havia sendo feito? Bom, existem diversos motivos, visíveis ou não, para que essa atitude seja tomada. Ao contrário do Asking Alexandria, que vendeu suas cinco almas ao mainstream para alcançar patamares que, sem esse “auxílio” não seria possível, o fator “saco cheio” pode ser muito bem usado para tais decisões. Essa troca de ideias não vai tomar rumos de crítica, mas de apresentação de uma banda que teve sua origem em Myrtle Beach, na Carolina do Sul, Estados Unidos, no ano de 2008, com a bandeira do hardcore melódico como norte, e hoje, apresenta um som, bom, deveras diferente de como tudo começou. A banda em questão é o Hundredth, grupo com oito trabalhos de estúdio, divididos em 4 full-length e 4 EP’s, algumas boas mudanças de formação, mas sempre mantendo seu frontman, Chadwick Johnson presente desde o início de tudo.

Início, Will We Surrender, Let Go e Revolt/Resist

Dando o ponta pé inicial em 2008, o Hundredth teve seu primeiro trabalho lançado em 2010, após a assinatura com a gravadora Mediaskare Records, mostrando ao mundo, após dois anos, a força que na época o quinteto tinha para oferecer. Apresentando um hardcore melódico com muitas variações, vocais berrados a todo instante, e aquele espírito jovem de combater os males da vida com a música, os americanos ganharam espaço na mídia do gênero.

Já em setembro de 2011, o segundo álbum intitulado Let Go, viria pela mesma Mediaskare, apresentando um som mais maduro, porém, sem perder as linhas melódicas e pesadas, caprichando no quesito intensidade em seus riffs, e mostrando a versatilidade que o som do Hundredth poderia ter sem dificuldades.

Com um ano de descanso do último álbum, a banda lança dois EP’s ainda pela mesma gravadora dos outros trabalhos, soltando o EP Revolt em 2013, e o EP Resist em 2014, consequentemente. A notoriedade com os quatro trabalhos lançados foi tanta, que a banda começou a despontar nos principais festivais de hardcore e música pesada da Europa e Estados Unidos, usando como exemplo, o Impericon Festival, conceituado festival de música organizado pela marca alemã Impericon, chamando a atenção de gravadoras maiores que estavam ganhando nome no cenário.

Assinatura com a Hopeless Records e lançamento do álbum Free

Em 2014, algum tempo depois do lançamento do EP Resist, a banda rompe contrato com a Mediaskare Records, e assina com a grandiosa Hopeless Records, gravadora de grandes nomes no cenário moderno, como Circa Survive, Neck Deep, New Found Glory, entre outros. Dessa nova parceria, nasce o quinto trabalho de estúdio do Hundredth em 2015, intitulado Free, onde é possível notar uma nova forma de abordagem tanto visual, como musical, ainda mantendo o hardcore melódico como norte, mas deixando o feeling da música sobressair ao lance da pancadaria. A banda excursionou durante 2015/2016 divulgando o novo álbum, e traçando o que seria a mudança brusca na estrada do Hundredth.

Mudança de estilo, RARE, Ultrarare e separação com a Hopeless Records

No começo de 2017, após o encerramento da tour de lançamento do álbum Free, a banda entra em estúdio, com o então produtor Sam Pura, para o desenvolvimento e gravação do álbum que seria o divisor de águas do Hundredth: RARE. Mas por que divisor de águas? Simples, a banda sai de um hardcore melódico muito bem trabalhado, para um indie shoegaze, mudando drasticamente sua abordagem em cima dos palcos e, consequentemente, no ouvido da galera que acompanhava o trampo deles. Essa mudança de estilo colocou os caras no Top 50 álbuns de 2017 do portal Stereogum, mostrando que a transição não foi totalmente mal aceita pela fanbase da banda.

Nesse espírito, com o intuito de tentar esclarecer aos fãs os motivos para os quais a banda mudou tão drasticamente de estilo, o vocalista Chadwick Johnson trocou uma ideia com o portal clrvynt.com, contando o porquê da atitude. “Nenhum de nós gostava muito da música que tocávamos. Nós nunca mostraríamos aos nossos amigos e diríamos “Ei, dê uma olhada neste álbum legal que fizemos”. Fazíamos isso quando tínhamos 19 anos, mas não sei, nunca fomos realmente nós [depois disso]. É uma coisa meio estranha para começar – todos nós gostamos de coisas diferentes, mas se transformou em uma banda de hardcore ou metalcore, seja lá o que for. É legal ouvir que você está nisso agora, porque estou mais nisso do que em qualquer álbum que já fizemos”, comenta Chadwick.

Em junho de 2018 o vocalista Chadwick remixou algumas faixas do trabalho anterior, e o Hundredth lançou o EP Ultrarare, abrindo outros olhos para a banda, acompanhando a substituição de elementos “pesados”, por outros elementos de entrada do pop, como sintetizadores, por exemplo, no lugar de distorções nas músicas, assinando, finalmente, o futuro da banda. Ainda em 2018 o Hundredth anuncia através de suas redes sociais que quebrava os laços com a gravadora Hopeless Records, seguindo a partir dali, como banda independente.

Em 2019 a banda continua com seu trabalho independente, remando na onda que escolheram remar, e entrega um EP de quatro faixas intitulado “Iridescent”, constando mais uma vez no portal Stereogum com “louvor e apreciação” por parte da curadoria. Atualmente os caras estão alimentando as redes sociais na base do mistério, postando diversas fotos de sapos (isso mesmo, sapos), e deixando os fãs atônitos, e alguns de saco cheio, como é o exemplo abaixo:

Hundredth no Instagram
Imagem: Fã comentando em postagem no instagram da banda

Aceitando ou não a mudança de postura e estilo de algumas bandas, os fãs precisam entender que as coisas mudam, caminhos se partem, ideias nascem e morrem, e o principal, que só é verdadeiro quando parte do coração, e foi isso que aconteceu com o Hundredth. Atualmente eles estão trabalhando em novas composições, fantasiando com os fãs, e flertando com o mistério. Nos resta aceitar o caminho que os caras quiseram percorrer, esperar e ver o próximo passo dos americanos que largaram o hardcore melódico para se dedicar ao indie.

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