The Amazons quer salvar o rock e vai incendiar o próprio passado nesse processo

O quarteto britânico é tudo o que toda banda iniciante quer ser: rebelde, provocativa e única.
The Amazons
Foto: Dan Harris/Reprodução

Embora falar bem de bandas de new rock britânicas já esteja ficando batido, o nascimento de bandas como o Royal Blood e o Nothing But Thieves abriu caminho para que seus compatriotas também brilhassem mundo afora. Hoje é dia de falar sobre a banda que literalmente ateou fogo à sua van de turnê para produzir a capa do primeiro álbum: The Amazons

Formada pelo frontman Matt Thomson, o guitarrista Chris Alderton, o baixista Elliot Briggs e o baterista Joe Emmett, o quarteto de Reading é uma brisa de ar fresco no que já é o new rock no cenário do Reino Unido. Em entrevista, Matt Thomson declarou: “Estamos em uma missão para salvar o rock and roll”. Antes de entrar no ponto de se a banda está cumprindo com êxito a missão, a pergunta é: o rock precisa ser salvo? 

Mesmo olhando pela ótica eurocentrista da declaração do frontman, é possível dizer que apesar de louvável, a missão da banda é ofuscada por bandas já mencionadas anteriormente, como o Royal Blood – com quem estiveram em turnê recentemente – e Wolf Alice, somente para mencionar dois. Deixando bandas norte-americanas como o cleopatrick e Dead Poet Society de fora dessa lista, é perfeitamente aceitável dizer que a declaração de Thomson é no mínimo presunçosa. E isso é ótimo.

The Amazons é o tipo de banda que faria sucesso em qualquer época por um simples motivo: são rebeldes. Quando se trata de rock, qualidade não é um fator decisivo para o sucesso, ou não teríamos bandas há muito tempo na estrada como The Strokes ainda lotando festivais, embora essa também seja uma virtude do quarteto. A inquietude e a necessidade quase sufocante deles de deixar o mundo restrito de Reading resultou em um dos álbuns mais elogiados de 2017 e em um dos álbuns de estreia mais sólidos da década. 

Álbum de estreia e Reading em chamas

O álbum homônimo de estreia da banda transborda tudo o que uma banda quer em seu primeiro trabalho: personalidade. Começando pela capa, que apresenta o finado Ford Transit incendiado; ali já é possível entender quem eles são e a que vieram. De acordo com Thomson, o incêndio é uma metáfora. A banalidade da realidade de Reading é motivo de boa parte dos jovens naturais da cidade quererem sair dali, inclusive os membros da banda, ao mesmo passo que a história vivida ali merece ser celebrada. Para a banda, a criação do grupo em si é a oportunidade de sair em uma aventura e deixar o ambiente bucólico para trás. E qual forma é melhor de comemorar o fato de que eles de fato estão vivendo essa aventura do que incendiando o veículo que os acompanhou em suas primeiras aventuras?

Desde a primeira faixa do álbum, a enérgica “Stay With Me”, até o hit “Black Magic” e na versão Deluxe do álbum, finalizando com as variações acústicas de algumas das faixas, o álbum é perfeitamente imperfeito. Os riffs poderosos presentes em todas – sim, todas, sem exceção – as faixas do álbum que poderiam ser ecoados nas maiores arenas do mundo contrastam com a simplicidade das letras. Não é o trabalho de grandes letras compostas para se opor ao sistema, tampouco composições pretensiosas. O álbum The Amazons é exatamente aquilo que parece: o álbum de quatro garotos do interior que nunca tiveram preocupações maiores do que sair da cidade em que nasceram, tentar entender o coração de uma mulher e principalmente, entender a si mesmos. 

O que é o futuro se não a perspectiva de algo que ainda não vivemos?

Future Dust, lançado em maio de 2019,  é a evolução natural do álbum de estreia, e a faixa de abertura do álbum, a grandiosa “Mother” já mostra isso. Os meninos saíram do interior, viram o mundo, tornaram-se homens e agora estão lidando com a dura realidade que é crescer. As melodias, agora ainda mais ricas e monumentais, encontram o amadurecimento lírico da banda em “Doubt It”, a faixa que melhor demonstra o crescimento da banda como compositores. 

O trabalho de produção da premiada Catherine Marks está ainda mais presente no segundo álbum da banda, remontando trabalhos anteriores como os álbuns Holy Fire (Foals), Modern Ruin (Frank Carter & The Rattlesnakes) e o elogiadíssimo Beautiful People Will Ruin Your Life (The Wombats). O trabalho certeiro de Marks na produção resultou na mistura quase perfeita entre a experiência da produtora e a originalidade da banda, tendo um trabalho mais coeso e fluido do que no álbum anterior.

O que resta após a poeira do futuro?

Após a turnê de Future Dust e a inesperada pandemia, a banda se viu na necessidade de apresentar mais uma faceta de si mesmos: quem são eles longe dos holofotes dos palcos e do som ensurdecedor dos aplausos? 

A resposta já tem data marcada: em 2 de setembro, ‘How Will I Know If Heaven Will Find Me?’ virá ao mundo e o single “Bloodrush” já é uma amostra do próximo álbum da banda. A composição do álbum foi feita inteiramente à distância, já que o grupo estava em isolamento em suas respectivas casas. O álbum promete ser o mais alegre sonoramente da banda, já que de acordo com Thomson, eles sentem que precisam espalhar positividade após o período sombrio que ainda estamos vivendo. 

Afinal, The Amazons precisa realmente salvar o rock?

O debate a respeito da relevância do rock atualmente é extenso e até mesmo improdutivo, já que é uma questão de ótica. O rock precisa ser salvo para tocar na rádio? Para atingir o topo de um chart baseado na relevância do artista em uma rede social? Ou o rock precisa ser salvo para continuar sendo o que sempre deveria ter sido, a resposta para quem se sente sozinho e ao ouvir uma música perceber que em algum lugar do mundo, alguém entende exatamente pelo o que ele está passando?

Nesse caso, sim, The Amazons precisa salvar o rock. Para que todas as almas inquietas ao redor do mundo se sintam como quatro garotos desesperados para abandonar suas vidas bucólicas no interior e ganhar o mundo. Mesmo que seja necessário incendiar cada Ford Transit existente para isso.

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