Weezer brinca com metal oitentista em ‘Van Weezer’

O tão aguardado 15º álbum do grupo une carisma de Rivers Cuomo a influências como Ozzy Osbourne e Van Halen

Quantas faces uma banda pode ter? Para os fãs de Weezer, essa pergunta ainda parece estar longe de ser respondida: ao longo de seus quase 30 anos de carreira, o grupo encabeçado por Rivers Cuomo experimentou com referências que vão do pop ao rap, renovando sua estética praticamente a cada lançamento sem perder sua excentricidade divertida e marcante. E em Van Weezer, o foco é voltado (quase que) totalmente para o metal oitentista da adolescência do músico.

Além da óbvia homenagem a Van Halen, o 15º álbum de estúdio da banda alude também a outros ícones do hard rock dos anos 1980, como Ozzy Osbourne, KISS e Metallica, aliados ao pop mais característico e familiar de outros trabalhos do Weezer. Cuomo, conhecido por sua metódica organização de letras em planilhas e análise de dados em programas escritos em Python para suas composições, resgata canções e demos de anos (e até mesmo décadas) atrás para montar um disco liricamente marcado por amor e nostalgia. 

Van Weezer abre energicamente com “Hero”, faixa que mistura sentimentos aspiracionais a uma certa síndrome do impostor e autoconhecimento ao som de riffs de guitarra e batidas alegres. Lançada como segundo single do álbum em maio de 2020, ganhou uma interpretação mais literal com um clipe feito em colaboração com fãs, que enviaram vídeos de suas casas em um primeiro momento da pandemia de Covid-19 – e também prestou homenagem a trabalhadores essenciais naquele período. 

Em seguida, temos duas canções que giram em torno do começo de um romance e representam dois extremos do ciclo de lançamento do álbum. Na animada “All the Good Ones”, o eu-lírico imagina uma rotina ao lado de alguém que acabou de conhecer (“Estou encantado e nem sei o nome dela”). O clipe colorido foi lançado junto com o álbum e foi desenhado por Jay Howell, que fez o design dos personagens da série Bob’s Burgers

The End of the Game” abre com guitarras bastante inspiradas por Van Halen, e além da letra auto-referencial (“Estou em uma ilha sem sol”) é uma declaração bem direta: “Sou incompleto sem você”. A faixa vem de uma realidade bem diferente do resto da lista – ela foi lançada como primeiro single de Van Weezer em setembro de 2019, quando o álbum ainda estava planejado para sair em maio de 2020 e seria seguido da Hella Mega Tour com Green Day e Fall Out Boy, agora remarcada para julho de 2021.

Riffs típicos do rock de arena chegam com força em “I Need Some of That”, faixa que rememora o conforto de tempos mais simples. Apesar de ser uma adaptação de uma composição em parceria com Josh Alexander e Billy Steinberg feita pouco antes do lançamento de Hurley, de 2010, é uma canção que conversa muito bem com a busca pelo aconchego nostálgico que temos hoje. 

Outro rearranjo que dialoga de certa forma com o período atual é “Beginning of the End”, lançada em agosto de 2020 como parte da trilha sonora da comédia Bill & Ted: Encare a Música. A canção semi-apocalíptica abre com sons de sirenes e de um monitor cardíaco – escolha curiosa considerando-se o cenário de pandemia – e é uma readaptação de “Rock and Roll Cockroach”, de 2011, com um sample de “The Longest Time”, de Billy Joel (que é inclusive creditado na ficha técnica da faixa).

Blue Dream” é um rearranjo da demo “Ballad of the Briny”, que apareceu pela primeira vez em 2011 em um vídeo no canal de Cuomo no YouTube, e traz o icônico riff de guitarra de Randy Rhoads em “Crazy Train” – faixa de Blizzard of Ozz (1980), primeiro álbum solo de Ozzy Osbourne depois de deixar o Black Sabbath. Liricamente, é um pouco mais escapista e figurativa que as anteriores e também relata uma busca por conforto, desta vez por conta de uma desilusão: “Estou em casa aqui, neste sonho azul/Desde que descobri que você não me quer”.

Caminhando para a porção final, “1 More Hit” segue com riffs de guitarra eletrizantes e bem familiares aos fãs do rock oitentista, com um som inspirado especialmente pelo Slayer. Na superfície, parece ser uma crônica sobre vício, mas pode também ser interpretada como a busca (ou pelo menos a pressão) da banda por literalmente mais um hit em seu catálogo – enquanto o Weezer vai relativamente bem nas paradas de canções alternativas, apenas seis faixas do grupo entraram na Hot 100 da Billboard, por exemplo, sendo a mais recente o cover de “Africa” de Toto, de 2018. 

O trio de faixas que fecham o álbum retorna à temática do amor romântico, começando com “Sheila Can Do It”, faixa ainda mais enérgica e também a mais antiga – Cuomo a escreveu em 1996, originalmente com o título de “Rachel”, na mesma época de algumas faixas que depois entraram em Pinkerton, e chegou a apresentá-la ao vivo em shows de seu projeto paralelo “Homie”.

O ritmo começa a diminuir em “She Needs Me”, narração do dia a dia do eu-lírico com sua parceira, que é complementada com a faixa final “Precious Metal Girl”, apresentada com um som mais simples e destacado do resto do álbum, sem riffs de guitarra ou mesmo acompanhamento de bateria, e fecha o álbum quase que num sussurro com a mensagem carinhosa “[Você] é minha melhor amiga no mundo”.

Com 30 minutos e 53 segundos, Van Weezer é o terceiro álbum mais curto da banda, atrás apenas de The Green Album (2001) e do mais introspectivo OK Human, lançado em janeiro de 2021. É um trabalho divertido e bem-vindo em um momento em que o mundo (ou pelo menos parte dele) retoma um clima mais esperançoso e alegre, além de ter uma qualidade técnica impecável. Porém, mesmo anunciando uma proposta diferente, os veteranos do Weezer não se arriscam tanto quanto poderiam neste disco – resultando em um som que certamente agrada aos fãs mas que pode decepcionar quem esperava algo mais ousado. 

7/10

Highlights: Hero, The End of the Game, Blue Dream, 1 More Hit

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