O Reino Unido tem nos servido excelentes novos artistas de new rock nos últimos 10 anos. De Royal Blood até Wolf Alice, as bandas oriundas da Inglaterra trouxeram à tona uma sonoridade única, carregadas de riffs pesados e letras que arrastaram multidões aos shows dessas bandas ao redor do mundo. Certamente você conhece as bandas mencionadas anteriormente, mas talvez uma tenha te passado despercebida: Airways.
Primeiros anos
A história de formação da banda é no mínimo inusitada. Em 2015, o vocalista Jake Daniels estava em Los Angeles quando conheceu o baterista Brian Moroney. Ambos estavam dormindo na casa de seu agente nesse momento; Daniels estava compondo para seu primeiro álbum solo enquanto Moroney estava em uma turnê e fez uma parada em Los Angeles. Os dois se deram bem e algum tempo depois, sem saber se o baterista levaria o convite a sério, Jake o convidou para ir ao Reino Unido e formar uma banda juntos. A resposta não foi imediata, mas dois meses depois Brian deixou sua casa em Chicago e se mudou para Peterborough, cidade natal de Jake. Logo depois a banda teve a adição do guitarrista Alex Ruggiero, amigo de longa data de Daniels e do baixista de Birmingham, Jamie Reynolds e o Airways nasceu.
No mesmo ano, começaram a fazer shows em Peterborough para audiências de dez pessoas e de alguma forma, chamaram a atenção dos então também estreantes Nothing But Thieves que estavam em turnê pelo Reino Unido com o debut álbum homônimo. Sendo convidados para abrir o show da banda em Londres mesmo antes de ter qualquer trabalho autoral oficialmente lançado, Airways se apresentou no tradicional Electric Ballroom, no mesmo palco onde já se apresentaram grandes bandas como The Killers, Blur, Muse e Cage The Elephant.
No ano seguinte, a banda lançou seu primeiro single, “Ghost Town”, uma faixa bem menos inspirada do que trabalhos mais recentes da banda. Com vocais mais contidos e uma melodia levemente genérica, a banda começou a carreira com um trabalho agradável, mas que foi eclipsado pelo o que viria a seguir. De acordo com o vocalista, a banda demorou para se encontrar musicalmente. Já o baterista afirmou na mesma ocasião que eles levaram meses na garagem de Jake ensaiando e irritando os vizinhos.
Em março de 2017, a banda foi escalada no lineup do festival South by Southwest (SXSW) e viajaram para Austin, nos Estados Unidos, para fazer duas apresentações. Eles documentaram a experiência em dois vídeos no seu canal no YouTube.
EP e Álbum
Em maio desse mesmo ano, a banda lançou seu primeiro EP, intitulado Starting to Spin. Co-produzido por Dom Craik, guitarrista do Nothing But Thieves, e o produtor Julian Emery, o trabalho contém 5 faixas, entre elas o lead single, “Reckless Tongue”. A faixa foi lançada dois meses antes que o EP e já acumulava um número significativo de plays no Spotify.
O single mostra um entrosamento muito maior entre os membros da banda e a sonoridade tanto da faixa como do EP são resultado disso. Com letras e melodias mais complexas, uma guitarra claramente influenciada pelo tempo que passaram com Craik, um baixo muito presente que lembra o de Nick O’Malley no aclamado “AM” do Arctic Monkeys e uma bateria rápida que remete à de Josh Dun do Twenty One Pilots, o até então quarteto lançou um primeiro projeto sólido e que transborda personalidade.
Quatro singles depois e com um integrante a menos – o guitarrista Alex Ruggiero deixou a banda para terminar a faculdade em julho de 2020 -, em outubro de 2021 a banda trouxe ao mundo seu primeiro álbum, “Terrible Town”. Renovando a parceria com Don Craik que assumiu a produção, o disco conta com 10 faixas e apresenta uma faceta mais obscura do que a banda revelou em “Starting to Spin”.
A banda abriu o álbum com a faixa “Out of Control”, que conta com riffs de guitarra sujos que casam bem com a letra imersa no conflito interno cantada por Daniels. A canção é enérgica, tem o uso de sintetizadores que trazem um ar grandioso e se esforça para parecer mais séria e madura do que já tinha sido apresentado pela banda até então. Se você estiver procurando por referências para decidir se o álbum merece seu play ou não, o refrão pode soar vagamente como a prima rebelde de “Mr. Brightside” do The Killers.
‘Slow’ certamente é o destaque do álbum e o que mais remete ao ótimo EP lançado anteriormente. Com uma letra que continua a história contada na faixa anterior, uma belíssima linha de baixo que pode se assemelhar às composições mais inspiradas do Royal Blood em “Typhoons”. O single funciona como um combustível para o álbum que está prestes a acelerar a toda velocidade, mas que por algum motivo continua avançando devagar.
As próximas faixas são esquecíveis e apenas servem para que o ouvinte perceba que a banda queria trazer todas as suas ideias e referências em um álbum com 10 músicas, o que soa mais como falta de clareza na mensagem que o trio queria transmitir no seu primeiro álbum do que no talento que se esperava. No mesmo passo em que as letras se mantêm na coesão da história que começou a ser contada na primeira faixa, o uso excessivo de recursos como sintetizadores e instrumentos eletrônicos tira o ouvinte da experiência de audição até chegar o ponto – que provavelmente será em ‘Even If I Lose Again’ – em que você se pergunta: “O que está acontecendo aqui?”. As duas faixas finais, felizmente, recuperam o tom estabelecido em ‘Slow’, trazendo coesão e um final agridoce para o álbum.
É difícil encontrar bandas que acertam em cheio como o cleopatrick em seu primeiro trabalho, especialmente quando os integrantes já tiveram experiências anteriores e trazem essas bagagens consigo. Além disso, o desejo latente de mostrar ao mundo quem são e com isso, trazer suas inspirações e referenciá-las em um disco de 34 minutos também não é tarefa fácil, especialmente quando o produtor do álbum vem de uma banda com três discos excelentes e elogiados pela crítica. E é claro, existe a expectativa do sucesso meteórico.
Como mencionado anteriormente, o Reino Unido tem oferecido ao resto do mundo excelentes bandas de new rock, com turnês mundiais, prêmios e milhões de fãs por todas as partes do planeta. Embora o primeiro álbum não tenha sido o mais sólido já feito por uma banda estreante, o EP é excelente e mostra não só para os fãs da banda como para o resto do mundo, que o Airways tem potencial para ser um dos principais nomes do new rock nos próximos anos.
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